...e Deus criou o Soneto

I

Abaixo de Deus, a Poesia.

Porque, enquanto Ele a cozia,

criava o Homem e a sua história;

enquanto separava a luz das trevas,

adornava a Terra e julgava a escória.

NEle ficou guardada,

recuperando-se dos seis dias,

pois a cada coisa criada, de modo perfeito,

doava tanto de si que, cansada,

adormeceu em Seu peito.

Era, pelo dever cumprido, o sono da vitória.

II

Era a eternidade cantada em forma, em cor...em magia...

E fez-se o som, antes até do amor.

E fez-se o verbo, Gênesis...a métrica, a rima...a poesia em tercETO

No sétimo dia, Deus, entretanto

juntou à terra, ao fogo e à água, éter e SOM à poesia.

Poesia sem gênero...Estava pronto o SONETO!

III

Mas porque "o tempo, o inexorável tempo não mácula, não corrói, não destrói os grandes fatos",

ficou ela desacordada, no aguardo, esperando,

tal qual a princesa que esperou o beijo

daquele que iria (des)encantá-la.

Então, diferente da fábula, abrindo a mais linda arca...divina,

onde dormia desde o cabalístico dia, em vez de apenas beijá-la,

Ele a tomou e a amou ...

Fecunda, foi lançada aos sete mares.

A prole multiplicou-se sendo batizada pelo nome "Inspirações"

descendentes do céu...içadas por aquela barca....

IV

Obrigada, Petrarca!

Grata pelo resgate da poesia em soneto.

Éter, som, amor e lamento atravessaram cores e formas;

monstros marítimos da imensa ciranda...

Obrigada também, Sá de Miranda!

V

Obrigada Deus...por tudo.

....

Marisa S.Bicudo