O SINO
E o badalo do sino
Chama ao templo divino
A massa crédula na vivência álmica
Não divisa além-mundo concreto
Outro senão aquele que às vistas não está.
E o reino que delega ao abstrato
Vivências não corroboráveis a olhos nus
Caminha senão às cegas, porém sobre nuvens.
Em contraste como que não se vê,
Nem, tampouco se possa provar,
Outros tantos, que não ouçam o sino,
E por isso não são convidados às bênçãos sagradas,
Divagam pelas ruas.
São párias da pátria, dizem aqueles que tributam
O flagelo pessoal às fraquezas dos esquecidos.
Ora, pois, dirão sábios doutos e mesmo a máxima autoridade divina,
O reino está para todos que o querem conquistar,
Todavia, não se ignora que só se oferta tamanha benesse
Em troca da cegueira diária.
E sob viadutos dormem almas esquecidas,
O sino não lhes chaga aos ouvidos,
E no frio chão, o manto invisível não aquece o corpo franzino.
Ora, pois, dirão sábios doutos:
Nossas mãos estão sempre estendidas e eles a renegam,
Não veem ao nosso encontro quando chamamos, o que podemos fazer?
E batem o martelo no tribunal e bradam a sentença máxima.
Outra alma se juntará as tantas atrás das grades
E domingos mães e esposas e filhos e irmãos
Juntar-se-ão à fila em visita ao delinquente.
Ora, pois, dirão os abandonados e condenados pela vida:
Não queremos a rua, o frio, a fome, nem tampouco, o roubo.
Só não ouvimos o sino salvador porque ele é para poucos, e nós muitos.
E a praça e as ruas e os viadutos se entopem de cadáveres insepultos,
E no templo entram distintos senhores e suas senhoras,
Para a hóstia redentora, amém.