Atônita

Sim, estou atônita face às palavras docemente ditas
que se transformaram, desatinadas, em gritos estridentes;
ao interesse que, metamorfoseado em indiferença
desapareceu;
ao espirito doador que estancou na escada evolutiva
e cuidadosamente vigia o alforge da apatia;
ao coração humilde fantasiado de arlequim, que descuidou vaidosamente a solitária colombina;
ao "Mestre com Carinho" arvorado de carrasco, cuja guilhotina
foi a palavra e o capuz a escrita;
ao amor amadurecido, peça de raro tecido. que demonstra preferir ser retalho;
ao cuidador silencioso que, mimetizado em "Mercador de Ilusões", passou a, nomeadamente,  exagerar nas "ofertas''
estou estupefata por estar escrevendo isto;
mas fui tolhida, de escrever aquilo.


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"Se as pessoas gostarem, do que ele diz, quem sabe, em vez de o matarem, poderão queimar suas palavras, bater nas cinzas com um pau? E se gostarem, podem tornar a ler as palavras, ou escrevê-las na porta de uma geladeira, ou brincar com as idéias que fazem sentido para elas. Há algum mal em escrever? Mas talvez eu seja apenas um idiota."

(Richard Bach em Ilusões)