ENSAIO DO QUE OLHO MAS JÁ NÃO VEJO
Meu atordoado olho que arde na terceira visão, conectado ao mundo num possível terceiro milênio telescópico, aliás caleidoscópico de tanta confusão.
Em que conceitos pululam trocados e estroboscópicos e nos turvam a direção, em que se confunde a nobreza da política com corrupção. Nas quais, cidades belas viram postais pra se guardar no pano de fundo uma vergonha já quase universal.
Macrobiótica vida prolongada no recurso da incerteza, numa fachada esculpida desgastada de beleza. Onde o palácio pende sem viga apoiado na ossatura fraturada da justiça, completamente cega e já sem poderes.
No que a globalização que tanto aproxima também nos repele em homens-bombas. Ao ver que o mundo gira, mas a volta completa não acontece.
Que a desigualdade fere porque ela rouba o espaço das diferenças. E que numa simetria o prato sem comida pesa mais no coração, porque este fica oco e se atrofia sem a justa combustão.
E o que resta, já nem cabe mais em rebeldia, luta ou revolução.
E olho cansado morre e se fecha lacrado num caixão.