SÓ AS LEMBRANÇAS FICARAM.

 

01-01-07

 

 

 

Numa nave voadora de prata e de tarja lateral vermelha, numa tarde que já se fazia triste, partia das minhas mãos parte dos meus sonhos.

Agora, apenas ficou estabelecida a distância e a saudade que, para maior sofreguidão minha, juntam os seus lamentos incoercíveis.

À noite me chega uma solidão, exatamente quando somente me expiam as estrelas sestrosas e distantes.

E, como sempre, permanecem teimosamente pousadas na lousa escura do céu.

Mulher, eu gostaria que elas fossem os teus olhos, esses mesmo olhos que me quiseram por alguns dias em Laguna e no Flipper.

Mulher, naqueles dias, eu tive o prazer de conhecer o teu corpo oceânico, ele era de uma robustez e de uma consistência macia, aonde eu naufragava silenciosamente todos os meus desejos.

E, entre um carinho e outro, inesperadamente fui te levando ao êxtase do prazer, que era devidamente comungado.

Mulher, os teus lábios são grossos como as ondas, lânguidos e feitos de carne quente e crua, eles saciavam a minha hiante fome de ti.

Mulher, o teu corpo é arrebatador, por isso ele é a projeção desesperada dos meus sonhos.

Nele está tudo maduro, esperando tão somente a próxima colheita nessa vindima, cheia de cachos loucos de prazer e amor.

Mulher, os teus lindos olhos da cor do furioso mel silvestre, eles são as janelas por onde eu expio a minha vida.

Mulher, tu te atracaste em mim como se fosse uma doce nave, linda e veterana vinda do norte, e assim, apascentaste as minhas águas que eram revoltas.

Mulher, eu agradeço a tua última intimidade escondida que me foi candidamente cedida, foi através dela que te levei ao ápice do prazer e, foi nela que, eu me realizei de forma selvagem e santa.

Mulher, agora eu vivo o desequilíbrio da embriaguez desse amor, através de uma saudade teimosa e de lembranças gostosas.

Mulher, em cada floresta, cachoeira, pedra, elevação ou em cada praia, ficaram como figuras rupestres os nossos vestígios que, futuramente, os recolheremos um a um, beijo a beijo, carícia a carícia, num ritual de amor novo e redivivo.

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 01/01/2007
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