Um mal remoto
É redundante e monótono o desabafo solitário!
Os ares preenchidos pelo medo do desamparo ou a multidão querendo te cercar.
Todavia existem seres que parecem estar de vigília o dia inteiro, com olheiras horrendas e trêmulos sorrisos, mas apenas se escondem do pesadelo da noite que se aproxima.
Correndo em círculos pelas ruelas da memória, buscam encontrar um refugio para suas desilusões.
Quando o cansaço inibe as evasões constantes, o delírio conduz a psique. Torrentes de imagens da mais pura tristeza dançam em torvelinhos; o trauma aumenta e nutre a energia que resta.
O aperto na garganta e o suor cálido na testa são as provas empíricas desse mal; um mal esquecido todas as manhãs. Um mal silente que definha o ser de maneira imperceptível e talvez irremediável.
Nas moléculas mais remotas do corpo persiste esse Mal, que pode ser algo químico ou de fato espiritual; remoendo dentro da carne frágil, atinge o âmago da vida.
Por mais prolífico ou inebriante que tenha sido um momento efêmero do dia, nada extirpa essa sensação ininteligível que enlanguesce.
As almas infortunadas por esse Mal remoto jamais sorriem, nem mesmo de suas desgraças cômicas.
Um gélido impulso paralisa o olhar que de tão fixo não fita nada e o cérebro apenas responde aos estímulos sem nenhuma intencionalidade.
Tão sério é o fadário imposto pelos arcanos ditados do Além!
Chega o ponto de se adequar a essa lânguida vivência, oscilando no tédio e na euforia fugaz.
Predomina a indiferença perante esse fardo diário; aceitando cabisbaixo a regra da maldição – ao ser chicoteado pela infâmia – apenas chora e nada mais!
Cessam-se as alternativas de um porvir esplêndido e, condenado ao martírio silencioso, observa mudo a própria sombra desvanecendo.