Solidão

Oh ânsia viandante!

Tremor pendular que na crista da ventura

e do infortúnio me confunde os sentimentos

de solidão eventual com a própria opção de solitário

decidido a descartar o necessário.

Sinto uma dor abstracta e incompreendida,

oh insólito corcel, que lesto escapa pelos dedos

de tantas perdas eventuais...

E para dirimir prováveis castigos e críticas,

temerosa de fantasias de solidão,

incapaz de casar a identidade

com meu próprio eu interior,

sem assimilar que as coisas sérias

da alma não cabem nos lépidos motins,

lentamente vou me esquivando ao acaso.

Será, oh vida imprevista,

que essas comunhões elucidativas

dependem da inter-relação de proximidade e ausência?

Acaso será a solidão um instrumento

intransferível de reflexão que é, ao contrario

de uma falta na ausência,

um estar em si mesmo, em plena possessão de si,

responsável pelo próprio conhecimento,

pela faculdade de ouvir as interiores

vozes inaudíveis, de modo a gerar,

em encontros infinitamente solitários

enquanto inefáveis, a melhor companhia

em todos os tempos,

como a arte, a música, a poesia...?

Por minha condição original de livre

tão só assim me sentirei quando me assumir

autor no mundo e não mero espectador recôndito

que sonha enquanto oculta sua solidão entre amigos.

Sim, aprendo agora que a solidão persiste

na convivência partilhada

como essência elementar,

como presencia na ausência,

como repouso de la superficialidade efémera.

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 22/10/2011
Código do texto: T3291169