Solidão
Oh ânsia viandante!
Tremor pendular que na crista da ventura
e do infortúnio me confunde os sentimentos
de solidão eventual com a própria opção de solitário
decidido a descartar o necessário.
Sinto uma dor abstracta e incompreendida,
oh insólito corcel, que lesto escapa pelos dedos
de tantas perdas eventuais...
E para dirimir prováveis castigos e críticas,
temerosa de fantasias de solidão,
incapaz de casar a identidade
com meu próprio eu interior,
sem assimilar que as coisas sérias
da alma não cabem nos lépidos motins,
lentamente vou me esquivando ao acaso.
Será, oh vida imprevista,
que essas comunhões elucidativas
dependem da inter-relação de proximidade e ausência?
Acaso será a solidão um instrumento
intransferível de reflexão que é, ao contrario
de uma falta na ausência,
um estar em si mesmo, em plena possessão de si,
responsável pelo próprio conhecimento,
pela faculdade de ouvir as interiores
vozes inaudíveis, de modo a gerar,
em encontros infinitamente solitários
enquanto inefáveis, a melhor companhia
em todos os tempos,
como a arte, a música, a poesia...?
Por minha condição original de livre
tão só assim me sentirei quando me assumir
autor no mundo e não mero espectador recôndito
que sonha enquanto oculta sua solidão entre amigos.
Sim, aprendo agora que a solidão persiste
na convivência partilhada
como essência elementar,
como presencia na ausência,
como repouso de la superficialidade efémera.