UM ESTRANGEIRO ERRANTE

UM ESTRANGEIRO ERRANTE.

(Um clandestino)

Para a estrela Aldebarã que vejo todas as noites.

“Sou um estrangeiro que aprecia as aves do céu que voam, pousam, cantam e gorjeiam e, depois, param, abrem suas asas e viram mulheres nuas de cabelos soltos e pescoços esticados”. (Gibran K. Gibran).

Sabes que sou um estrangeiro e que fui um clandestino, e havia na vida do clandestino uma solidão pesada e um isolamento doloroso.

E fui assim sempre, pensando numa pátria encantada que ainda não conheço e a sonhar com a sorte deste meu país que em terras ermas e distantes visitei na luta por este sonho que tanto sonhei.

Apreciarei as mulheres nuas que olham para mim com paixão e sorriem para mim com sensualidade, e estendem as suas mãos brancas e perfumadas, mas, de repente, estremecem e somem como nuvens passageiras deixando para trás o eco de risos irônicos.

Por isso, permanecerei um estrangeiro que chega e se vai. As pessoas que me rodeiam são pequenos deuses, sementes reais da minha fantasia, frutos da minha solidão.

Por isso, permanecerei um estrangeiro não mais um clandestino, até que a morte me rapte e me leve à verdadeira pátria, além do horizonte azul bem no alto das montanhas, aonde o vento se transforma em brisa suave, aonde poderei encontrar com saudades os amigos que perdi na clandestinidade. (Gibran K.Gibran)

Apesar de ainda me considerar um estrangeiro para ti, hoje, eu gostaria de te levar às alturas e ver o vento brincar com os teus cabelos e sentir nos teus olhos pretos a presença de alegria e felicidade.

Depois desceríamos para a aldeia dos humanos.

Juntos, caminharíamos até ao mediterrâneo, o mar de nossas almas, berços de eternas vidas e o faria curvar-se diante de ti.

Beijando-te os pés em sinal de vassalagem, eu ordenaria as brancas espumas para num vai-e-vem infinito fazerem carícias plenas a uma estrela feliz.

Apreciaria o teu olhar profundo e parado cheio de mistérios, perdido no horizonte longínquo como quem busca uma caravela perdida em alto mar.

E depois, iríamos juntos caminhar pelas praias de areias brancas, de encontro aos ventos.

E, assim, veria no teu meigo rosto uma profusão de alegria e os teus lábios endeusados esboçariam um divino sorriso.

E nós, como que atraídos um pelo outro, misturaríamos nossos hálitos entre quatro lábios, conjugando o universal verbo do amor.

Todavia, esta noite chove e é frio, neste instante sei que dormes e, se me fosse possível, transformar-me-ia nesta chuva ou neste frio somente para envolver o teu sono, borbulhando em gotículas cristalinas condensando-me nos vidros da janela do teu quarto.

Gostaria de ser o próprio vento frio para que tu sentisses a minha proximidade e, num gesto impensado, tu puxarias a coberta quente como que nos envolvendo para sempre.

À alma que acolheu a minha alma em seu coração, e que verteu a chama do amor no meu ser.

Ao abraço que tu me dás todas as noites e que acendeu as chamas dos meus sentimentos.

Eu te dedico esta contemplação em forma de Elegia, nascida na solidão de um cometa errante que hoje se fixou em ti.

Ao teu sorriso que vale por mil beijos, porque jamais alguém sorriu assim para mim.

Ao amor que me dedicas, porque jamais fui amado assim e, em contrapartida, nunca amei uma mulher como estou te amando Glauci querida.

Desculpe ter me servido de Gibran Khalil Gibran, mas acho que ele se vivo fosse faria o mesmo.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 24/12/2006
Código do texto: T327169