FOGO DE PAIXÃO.

 

 

 

I-              Oh ardente lua! Mulher branca e magra, mulher minha que amava. Ah mulher, não sei como tu pudeste me conter durante essas oito primaveras na cruz longa dos teus braços. 

II-                O meu amor foi terno e leve e, nas carícias, eu te levava em minhas mãos suaves como uma rosa selvagem.

III-              Em meu coração chovia corolas, quando tempestivamente nos tenteios do sentimento, eu polinizava o teu gineceu como suave abelha, num esforço desmedido na busca incansável do ápice do prazer.

IV-            Para espanto meu, o esforço de estame não extasiava o gineceu insensível. Hoje, já não te amo mais, assim prefiro caminhar triste pelas veredas da minha vida insensata. E tu preferiste a suposta liberdade, preterindo de forma fria esse amor que, supostamente por ti morreria naufragando-se em teus braços.

V-               Não quero viver mais amores como esse. Serei um inseto alado e, de flor em flor visitarei as pétalas. E assim, me extasiarei no cálice floral das flores silvestres e, de pólen em pólen, me lembrarei sempre de ti.

VI-            Sou esse invertebrado, às vezes nômade, peregrinando pelas colinas e pelos campos à procura de um amor num beijo de pétalas.

VII-          Serei um inseto, às vezes um regato, às vezes nuvem, será uma busca desesperada do meu destino que partiste.

VIII-       O mar quebra com o seu bramido secular intermitente e teimosamente as suas ondas nas rochas. Saudosas ondas num banho de lembranças. Mas para espanto do espectador que sou eu, as ondas fenecem na praia de forma rítmica e em brancas espumas nada me dizem.

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 23/12/2006
Reeditado em 23/12/2006
Código do texto: T326310