FOGO DE PAIXÃO.
I- Oh ardente lua! Mulher branca e magra, mulher minha que amava. Ah mulher, não sei como tu pudeste me conter durante essas oito primaveras na cruz longa dos teus braços.
II- O meu amor foi terno e leve e, nas carícias, eu te levava em minhas mãos suaves como uma rosa selvagem.
III- Em meu coração chovia corolas, quando tempestivamente nos tenteios do sentimento, eu polinizava o teu gineceu como suave abelha, num esforço desmedido na busca incansável do ápice do prazer.
IV- Para espanto meu, o esforço de estame não extasiava o gineceu insensível. Hoje, já não te amo mais, assim prefiro caminhar triste pelas veredas da minha vida insensata. E tu preferiste a suposta liberdade, preterindo de forma fria esse amor que, supostamente por ti morreria naufragando-se em teus braços.
V- Não quero viver mais amores como esse. Serei um inseto alado e, de flor em flor visitarei as pétalas. E assim, me extasiarei no cálice floral das flores silvestres e, de pólen em pólen, me lembrarei sempre de ti.
VI- Sou esse invertebrado, às vezes nômade, peregrinando pelas colinas e pelos campos à procura de um amor num beijo de pétalas.
VII- Serei um inseto, às vezes um regato, às vezes nuvem, será uma busca desesperada do meu destino que partiste.
VIII- O mar quebra com o seu bramido secular intermitente e teimosamente as suas ondas nas rochas. Saudosas ondas num banho de lembranças. Mas para espanto do espectador que sou eu, as ondas fenecem na praia de forma rítmica e em brancas espumas nada me dizem.