NAS MARGENS DE UM RIO, EU SENTEI E PENSEI...

 

 

 

Feliz Natal!

 

 

 

Nesta época de festas e especialmente as pré-natalinas, nos trazem certa alegria, bem como uma falsa expectativa.

Não sei se é pelo condicionamento pertinente ou, é a insistência de mensagens com uns fortes apelos emocionais, próprios da ocasião que, de certa forma, nos leva a uma abertura de alma quase que universal.

O fato é que, aproveitando essa mesma e suposta expectativa, resolvi te escrever, já que entre nós paira um silêncio terrivelmente angustioso e sem sentido, abafando as nossas tríplices vidas. (a minha, a tua e a de nossa filha).

Não quero que vejas nesta minha atitude um sinal de fraqueza ou, um outro motivo qualquer.

Mas sim, somente a oportunidade para deplorar esse estado de ânimo enganoso e pífio que, por certo, vem nos fazendo mal.

É como se estivéssemos à beira de um rio, (complexo de emoções) em margens opostas e sem que nenhum dos dois apresentasse disposição para atravessá-lo.

É um hiato que se faz desnecessário e obtuso.

Procuro temerosamente fazer a minha parte.

Eis o meu primeiro passo!

Eu sei das dificuldades existentes, mas sei também por uma intuição toda minha que, existe essa mesma vontade de tua parte.

 Por isso, sejamos menos egoístas e deixemos fluir uma trégua que, por certo, fará bem para nós três.

Aproveito o ensejo que se me apresenta para dizer-te que não guardo rancor ou mágoa.

Apenas um sentimento de rejeição e uma vacuidade inexprimível, por ter sido preterido de uma forma inesperada e fria.

Eu sabia que não me amavas, aliás, quero crer que sempre soube.

Pois está estratificado nos poemas que compus naquela época, e esse entendimento me levou silente para um exílio dentro de mim mesmo.

É lógico, fui me arrastando em silêncio para uma nulidade e uma depressão emotiva, fazendo com que fossem naufragados todos os sonhos outrora vividos.

É bem verdade que te amei e, para espanto meu, esse sentimento me perseguiu como uma mariposa estonteada e ofuscada pela forte luz do amor.

 Essa mesma mariposa buscava uma janela aberta para ganhar a liberdade e, sonhar apenas que, um dia, muito amou e não foi amado. 

Não quero mais compartilhar esse sentimento, o que sinto me basta.

O meu coração está contido e pleno com o que sente, e assim, eu quero ganhar os meus últimos dias.

Não acredito mais que possa surgir um fato novo que me empolgue, e que venha me dispor a vivê-lo outra vez intensamente.

Ainda me acordo com a alma úmida de amor, assim como as pétalas numa madrugada fria, silenciosa e solitária.

O sentimento do amor foi bom e verdadeiro, mas teve um grande e incorrigível defeito.

Foi o de ser unilateral (congênito), pois assim nasceu.

E por ter sido assim, hoje, eu prefiro vivê-lo de forma platônica, sem projeção e sem um objetivo determinante.

Quanto a mim, eu vou viver o meu passado em sonhos, a cada momento, a cada minuto de todos os dias, recordando com saudades e com ternura esse amor pela minha vida afora.

 

Na gare da vida, eu tomarei um trem para picotar de forma ensimesmada a passagem do tempo, mesmo porque, não há como esquecê-lo.

Por que o passado me deu um presente, ele foi a maior expressão de amor, hoje realizada graciosamente nas melenas pretas de minha filha.

O amor é breve, mas longo é o esquecimento. (Pablo Neruda)

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 23/12/2006
Código do texto: T326307