SILÊNCIO INCOERCÍVEL
SILÊNCIO INCOERCÍVEL
Constato existir nesse silêncio perpetuado em anos, uma razão incoercível e obstinada, como se assim nada houvera acontecido.
Quero crer que, sem a pretensão de estar certo, haver por trás dessa calmaria algo a ser desvendado, obviamente premido por razões passionais e existenciais.
Contudo dizem que o silêncio, às vezes é sábio, outros afirmam que, “quem cala consente”.
Bom, sabedoria eu sei que não é disso eu tenho a certeza, pois de onde ele parte não vejo vestígios do saber, ao contrário, pelo que eu conheço boamente pouca sabedoria reside ali.
Agora me resta inquirir sobre essa mudez constante e insensata, entretanto, parece que o calado aceita a condição adversa como um silêncio confessional ou, quem sabe, se prepara para uma investida ardilosa.
Só Deus sabe quando e como!
A aceitação de um erro ou o arrependimento de um fato provocado e ocorrido, quando devidamente assimilado, leva de vez o indivíduo ao mutismo.
Que é uma forma de defesa ou, um autoflagelo a fim de não ser coagido e responsabilizado pelo ato praticado.
No silêncio, normalmente, presume-se muitas das vezes existir um calvário penitencial.
Uma vivência cheia de dúvidas e remorsos leva a uma vacuidade devoradora de princípios.
Isso porque, não se tem a coragem altruísta em admitir o erro ou, a perda inesperada em razão do seu ato impensado.
Quem cala consente!
Consente com o quê?
Não gosto desse silêncio introspectivo, teimoso e sepulcral, essa condição me martiriza e faz com que se alcem vôos quiméricos.
Vôos entorpecidos pelas dúvidas que nos arremessa para um abismo de conjecturas, sabidamente enganosas.
Dessa forma, criando possibilidades inúteis, dado à fragilidade emotiva vivenciada.
Também não gosto desse silêncio porque ele me traz com a sua circunspeção, algo como se fosse uma acusação. E, no julgamento que se faz, de repente, repercute laivos de culpabilidade quando na verdade eles não existem.
Muito ao contrário, a culpa reside noutra parte. Quiçá na busca de razões ou cometimentos inconscientes que, possivelmente, tenham gerado esse silêncio mórbido, um verdadeiro inferno abissal de dúvidas.
Se a mim cabe a culpa por esse silêncio, às vezes acho que sim, mas muitas vezes acho que não.
Entretanto me resta também fazer silêncio, à espera que ele seja rompido não por mim, mas pela parte que me arrojou nesse mesmo silêncio.
Interessante! O silêncio fala mais alto do que imaginamos, e ele está nos dizendo com o seu grito sufocado verdades que não queremos ou não sabemos lidar.
E que, acertadamente, não se tem o necessário equilíbrio para fazê-lo cessar, destarte, dando-se oportunidades para se ajustar possíveis conflitos, desentranhando-os com diálogos francos e objetivos sem os ranços e as mágoas contidas.
O quê será esse silêncio perpétuo?
Seria uma antipatia venenosa bordada de um orgulho pernicioso ou, um endurecimento de espírito. (falta de caridade)
Ou, mesmo seja falta de inteligência quando, na verdade, deveria ser ao contrário, isto é, ser amistoso sem ser humilhante, ser grato sem o rebaixamento servil.
Talvez a psicologia tenha resposta para esse comportamento sintomático, uma real atitude insana e nada inteligente.
Seria esse silêncio um castigo?
Não tenho completo convencimento dessa hipótese, mesmo porque, o castigo já fora imputado.
Portanto, não há razão plausível consciente para esse flagelo imposto com presunção.
Já nos castigamos e nos punimos mutuamente, foi um sacrifício desmedido e arrogante.
E assim, pulverizamos nossas vidas afoitamente.
E no rastro do ódio e do desamor, levamos pessoas inocentes que, dado as suas incapacidades para reagir tornaram-se presas fáceis e impotentes.
Assim, indiretamente sofreram o açoite sem, contudo, merecê-lo.