RELICÁRIO DE VIDA

RELICÁRIO DE VIDA

17-05-2000

I – Tu lembras a ternura leve como água e a névoa, trazidas no tropel das ondas? E as palavras apenas começadas nos lábios e censuradas por beijos insistentes e repentinos?

Foi esse o meu destino, nele foi o meu anseio e o meu anseio continua. Tudo em mim se naufragou em ti.

II – Lembras os fachos luminosos do farol, apontando com a sua luminosidade a direção aos navegantes e nos descobrindo de forma intermitente, às rochas, ao mar, às ondas invejosas da nossa noturna paixão?

III - Lembras de certa noite num anunciado eclipse da lua, nós prostrados de fronte de uma igreja antiga, quando santificávamos aquela mesma noite que se multiplicou em astros, ventos e beijos?

IV - Lembras o teu quarto onde predominava o verde, e em cujo leito de colchão ortopédico, nós periodicamente procurávamos a retidão de nossas vértebras? E num ritual ofegante éramos enlaçados, e assim, fazíamos um só corpo esquecidos e largados do mundo?

V - Lembras do esforço que empregávamos para que tu pudesses comungar o êxtase inominável do amor, numa perseverante continuidade do ato e a sua tão esperada consecução?

VI – Lembras quando desnuda ficavas oferecendo-me o teu corpo ardente, para que, eu percorresse os seus caminhos de lua na busca irreverente e incansável do prazer?

VII - Lembras quando de preto te vestias, provocando-me com a leveza da seda que emoldurava o teu corpo mais do que santo? Sabidamente me subjugavas, e assim, nos saciávamos nessa mesma seda escorregadia.

VIII - Lembras de uma tarde fria quando abandonados em carícias íntimas nos consumíamos? E o teu ventre quente e movediço, preparava-se para receber em seu relicário de vida, o sêmen que instantaneamente fundiria uma nova vida, a vida da nossa futura filha?

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 21/12/2006
Código do texto: T324641