PERFÍDIA DA NOITE
PERFÍDIA DA NOITE.
Versos desesperados.
Junho de 1999
I- Caí-me o verso desesperado na alma, assim como o orvalho da madrugada em frias pétalas. (Pablo Neruda).
II- E nesta cadência infinda, agora me fustiga uma saudade de cuja substância amarga entristece-me entre os sonhos incompreendidos.
III- De tantas lembranças turbilhonando em minha mente, foge-me o sentido da súbita realidade.
IV- Crepitam-se os sonhos como fogueiras existenciais. Desvanece em brumas a tua lembrança fugidia e teimosa. Ó interminável dor! Ó escombros da perfídia! Ó sentina de saudades.
V- De tantos sóis que se foram, restou-me agora uma penumbra enfadonha, indefinida e magistralmente lúgubre. Ó catedral silenciosa! Ó ergástulo sombrio! Ó pélago infinito!
VI- Tudo era bom e puro. A paz repelia mansamente todas as sombras, e assim, transitava a inevitável ternura.
VII- Já não se encantam mais os meus olhos velhos, com os teus olhares perdidos e questionáveis.
VIII- Há uma dúvida transitando pelo meu ser como um fantasma apocalíptico, rodeando-me com a insistência de figuras assombradas, exóticas e indesejáveis.
IX- Muitos foram os meus sonhos no premido solitário das noites, e agora, me sobra apenas lembranças dos ventos, dos beijos e dos sonhos que não mais ressuscitarei.
X- Sobrou-me também esta mesma noite como consorte, uma gélida companheira de quietude interminável.
XI- Simples devaneios. Oh lenitivo sagrado que dá sentido novo para o desconhecido amanhã, que abruptamente se avizinha com essa madrugada.
XII- A mesmice é constante e a vida é uma procissão inacabada, insípida e frágil. Ó vidinha vivida! Ó vidinha besta! Ó vida sentida!
XIII- E eu que caminhei além do desejo e do ato medíocre, numa busca perseverante da substância e do amor.
XIV- De súbito, surge-me a idéia de que viver assim vale a pena, pois deve alguém viver de forma mais triste.