PÉLAGO MOVEDIÇO

PÉLAGO MOVEDIÇO

Abril 1999

I- Na terra de tua alma e na cruz de teus braços longos, o meu desejo de ti foi o mais terno e puro. Eu sei que o difícil é acreditar.

II- Minha alma clama como se houvesse perdido o céu. Transcende a tudo o amor que te devotei, ele era o mais terno e puro, o mais ávido e inconseqüente.

III- Ensimesmado ainda te desejo como a um fruto maduro que cai da sua árvore. És sazonada como a carambola acre-doce e aquosa, cujo suco escorria pelos teus lábios outrora sagrados.

IV- Fico à distância a te observar como estrada percorrida, foge-me de forma interminável essa reta subjetiva dando-me apenas, a expectativa de um infinito vazio.

V- Meu lamento é um grito que foge com os ventos sem direção, ululando cortando almas e beijos numa noite infinda cheia de astros errantes.

VI- Estes versos sãos tristes, pois ainda pouco parti de tuas mãos, sem ao menos, o conforto do adeus ao exilado.

VII- O ostracismo, de repente, se petrificou em mim como uma nova pátria. E a tua lembrança teimosa emerge do ergástulo da minha última morada. E num infinito pélago dorme a minha alma, mesmo assim a tua imensidão me persegue com os teus olhos negros que eram bons e agora estão cerrados de espantos.

VIII- Nada me afasta dessa dor silenciosa, o mar e o vento juntam os seus lamentos obstinados e torturantes, dentro desta noite vazia em que me encontro.

IX- Por enquanto hei de te amar no meu próprio exílio, mas o doce encanto que nutríamos, desfar-se-á assim como as trilhas do movediço e hostil deserto.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 21/12/2006
Código do texto: T324432