ELEGIA PARA 10 DE NOVEMBRO

ELEGIA PARA 10 DE NOVEMBRO.

10-11-1999

Hoje, eu poderia te dizer as coisas mais lindas deste mundo.

Entretanto não as direi, somente as escreverei, porque me cerca de dúvidas o fato de não recebê-las muito bem, e de não entenderes a finalidade última da minha manifestação saudosa e sincera.

Por isso jamais saberás da existência e nunca receberás esta elegia, e ela ficará arquivada no sepulcro de emoções, (inconsciente) a espera de uma futura edição se o tempo exigir.

No entanto, hoje trocas mais um dígito no cronômetro da tua vida, e o tempo com o seu cinzel inevitável já marcaram os teus cabelos.

Faço votos e desejo sinceramente emperrar os dígitos do tempo, para que, não venhas a sofrer o açoite da idade num acúmulo de anos.

Igualmente desejo que continues expondo a tua jovialidade existente nessa madura idade dos quarenta.

Recomendo também que, nunca tu deixes transparecer o arrependimento e a vergonha pelo ato cometido, pois sei que eles te corroem por dentro como um câncer sub-reptício.

É inexprimível que após tanto tempo, ainda sinta o adejar de um sentimento carinhoso, mesmo mergulhado em profundas dúvidas e duras amarguras sofridas.

Sabidamente essas mesmas dúvidas, atroz dúvidas, me inibem para uma investidura num outro relacionamento que possa se transformar num porto seguro de carícias.

Sinto-me incapaz, porque em meu coração residem e dormem vários sulcos de desesperança e descrédito, desta forma impossibilitando-me para um arremesso mais íntimo.

Quero crer que a chaga existente ainda não cicatrizou definitivamente, entretanto, me conforto em saber que o tempo, senhor de todas as coisas, se encarregará de encobri-la, um dia, para sempre.

Somente, agora descobri o quanto foi em vão o amor dedicado.

Foi um amor manso e ávido, prostrei-me a esse amor, e assim como um cego, eu fui tateando e me naufraguei por inteiro nele.

Entretanto, por uma intuição minha sempre senti que não era amado, mas nunca imaginei que poderia ser daquela forma e, por não esperar que fosse assim, esse sentimento não comungado, portanto unilateral, me levou silente para uma nulidade sem sentido.

É inexprimível a sensação que na época eu sentia, tu sabias do inferno no qual me arremessavas e, no entanto, a cada dia, mais e mais procuravas me afundar no sofrimento e na angústia.

Exilei-me dentro de mim mesmo, pois não havia nada a fazer e, para sepultar o que já estava morto, sem a mínima misericórdia fui alvo do tiro fatal: A perfídia.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 20/12/2006
Código do texto: T323584