SOB AS PAINEIRAS ELA ME BEIJA
SOB AS PAINEIRAS ELA ME BEIJA.
Caminho sozinho e sem rumo.
Calado, apenas resmungo palavras.
Às vezes até gesticulo. E como!
Não é loucura - é um monólogo.
Se for loucura é uma doce demência.
Mas não é!
Na verdade, eu acho que é um diálogo,
Pois converso mesmo é com ela.
Sei que estou servindo de instrumento.
A minha boca articula frases curtas,
Como essas pronunciadas pelas almas.
As pessoas me olham de soslaio,
Desconfiadas, sestrosas e estranhas.
Elas não têm tempo para esse deleite.
Eu acho que o estranho sou eu.
Não dou à mínima!
Sigo o meu caminho conversando com ela.
Somos tão íntimos e tão próximos que,
Chego a sentir o seu hálito e o calor.
Já sinto que estamos de mãos dadas.
Vem-me aquele aperto carinhoso,
Cheio de desejos, eu sei que é dela,
Pois conheço bem as suas mãos.
Sentimos que estamos cansados e,
Ela está ofegante, talvez seja de amor.
Sentamos às sombras das paineiras.
E ela graciosamente colhe painas.
Parece neve escorrendo entre os dedos.
Docilmente ela se ajoelha aos meus pés,
É lógico que estou sentado descansando e,
Numa reverência toda nobre e especial,
Ela assepsia com painas os meus lábios,
Depois deposita desbragadamente beijos,
Lindos e famintos de amora silvestre.