SOB AS PAINEIRAS ELA ME BEIJA

SOB AS PAINEIRAS ELA ME BEIJA.

Caminho sozinho e sem rumo.

Calado, apenas resmungo palavras.

Às vezes até gesticulo. E como!

Não é loucura - é um monólogo.

Se for loucura é uma doce demência.

Mas não é!

Na verdade, eu acho que é um diálogo,

Pois converso mesmo é com ela.

Sei que estou servindo de instrumento.

A minha boca articula frases curtas,

Como essas pronunciadas pelas almas.

As pessoas me olham de soslaio,

Desconfiadas, sestrosas e estranhas.

Elas não têm tempo para esse deleite.

Eu acho que o estranho sou eu.

Não dou à mínima!

Sigo o meu caminho conversando com ela.

Somos tão íntimos e tão próximos que,

Chego a sentir o seu hálito e o calor.

Já sinto que estamos de mãos dadas.

Vem-me aquele aperto carinhoso,

Cheio de desejos, eu sei que é dela,

Pois conheço bem as suas mãos.

Sentimos que estamos cansados e,

Ela está ofegante, talvez seja de amor.

Sentamos às sombras das paineiras.

E ela graciosamente colhe painas.

Parece neve escorrendo entre os dedos.

Docilmente ela se ajoelha aos meus pés,

É lógico que estou sentado descansando e,

Numa reverência toda nobre e especial,

Ela assepsia com painas os meus lábios,

Depois deposita desbragadamente beijos,

Lindos e famintos de amora silvestre.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 17/12/2006
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