Bilhetinho da nostalgia
Daquela última vez me disseste que sentia saudades. Por que teria eu de ser tão grosseira? Por que?
Por que tens de possuir tamanha frescura?
Por que então tens saudades deste monstro? Que te maltrata e fere, sem remorsos?
Será que estas tão ditas saudades não são apenas saudades da utopia que criei? Não seriam, saudades estas, daquele tempo em que lutávamos tão bravamente pela última gota, pelo fundo do poço?
Sentes tantas saudades de mim quanto o demônio da cruz.
Estas tuas saudades são minha elegia.
Por que estas saudades repentinas?
Não conheço eu outra maneira de viver que não seja esta. Nem desejo conhecer. É a maneira da dor. Da decadência. Do fundo do poço. Do fim, que nunca chega.
Saudades daquela que te causa tanto sofrimento? Que te faz mal? Tu me disseste tal. Não tens saudades de mim. Jamais tiveste.
Tens saudades da infância perdida, da loucura, da liberdade que nunca veio. Daquela busca incansável, que sequer se sabe de quê.
Se queres se afastar, afasta-te.
Só não me venhas depois com chorumelas.