Mendicidade dos negligentes

Sou vizinho desta fábrica

Cuja sineta reverbera

Berra aos quatro cantos

O descanso, o fim do turno

As cigarreiras denunciam

Com fumaça a minha espera:

Mulheres de muitos encantos

Homens de rosto taciturno

Todos estirados na calçada

Mais um dia sem expediente

Da fábrica saem robôs

Cegos, mas obedientes

E assim termina mais um dia

na cidade dos negligentes.