Dois sóis na noite escura
Pôs-se o silêncio a escutar
minha ânsia que entardecia,
pendurada na esperança de amar,
quando chegaste com desejo de saciar
toda a minha vontade de amar,
abrindo na noite um magnífico mágico luar
e então todo o silêncio em volta se juntou
ao milagre de enlouquecer os sãos,
de pôr sóis na noite, brisas na tempestade
e pedras a florescerem.
Bastou ver-te e descomplicou-se viver na terra.
Incrível, como nosso amor revivescente de sempre
transfigurou-me de um lago triste
a um vergel suspenso nos nimbos,
erguendo instintivamente as minhas mãos
em prece pelo céu de sóis,
feito canções de dois pássaros, que voando sumiram,
tal candoroso luminar de um dia partindo,
que começa a dormir.
Possuimo-nos e adentramo-nos mutuamente,
carne a carne, alma a alma,
como o crepúsculo que engole a luz
e no sulco etéreo fez-se um repouso,
quando meu corpo todo se abriu
para ofertar-se e receber-te,
feito dois sóis que acordam,
entardecem e juntos anoitecem.
Entre lascivas línguas de fogo,
éramos a própria labareda incendiária
de sonhos singulares perseguindo-se
e amarrando-se com bicos e garras selvagens,
na brandura de seres ligados pelo fio de estrelas,
que se afundou nas mais profundas
e longínquas raias, para nos revivescer,
de duas nuvens saturadas,
em uma única gota orvalhada de amor.
Santos-SP-06/12/2006