Ponto e vírgula
A literatura é um consolo, capaz de me fazer esquecer o que sou ou que deves nunca fui.
Pego um livro, um escrito por Clarice e começo a viver os personagens, os mistérios tão escuros da alma humana. Tão escuros a ponto de transformar uma manhã de verão em noite fria sem brilho de estrela alguma.
Me lanço em outro livro, agora escrito por Drummond, e também afirmo: Mundo, mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima e não a solução(...)
Aí minhas duvidas embaraçam o pouco que sei a meu respeito. Tomo mais um café já não importa se frio, pois meus sentidos se foram, assim como os sonhos de Quaresma. Esse diante do peso amargo da realidade viu-se esquecido pela ilusão da vitória.
Lembro então, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e o meu predileto, Álvares de Campos, um futurista neurótico, preso as garras do individualismo romântico, influenciado por nomes como Cesário Verde e Walt Whitman, decorreu em poemas assimétricos a ânsia do tempo que avança sem parar e do absurdo da vida. É o heterônimo mais indisciplinado. não conteve os sentidos da memória, volta ininterruptamente ao tempo, mestre em escorrer pelas mãos. Estes heterônomos acompanharam em tempos retrógrados ou agora o impecável poeta de nomes criados, mas este tão só morreu , duvido se tão quanto eu.
Na dubiedade da folha de um lado só, canso de tudo um pouco. Desenho pássaros sobre as sobras do quadro de Van Gogh: A ponte em Arles, pintado no ano de 1888
Fico imaginado as várias pontes do pensamento, e me assusta as vezes que sem força ou sem equilíbrio não temos o prazer de chegar ao outro lado, caímos então. Bom seria se o terreno que nos acolher-se fosse um mar ou um rio, antes é o escuro abandono do esquecimento.
Sem querer deixo meu corpo afundar no mar sem cor desenhado por minha lembrança teimosa.
Folheio as paginas do livro Romanceiro da Inconfidência de Cecília, sim porque agora brotou em meus galhos secos sedentos de água o verso "...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..." Cecília Meireles
Tento acompanhar os passos de Borges, mas o relógio mudo na parede indica, devo dormir, amanhã saio cedo.
Escritores citados
Clarice Lispector
Carlos Drumonnd de Andrade
Lima Barreto
Fernando Pessoa; e alguns heterônimos.
Cecília Meireles
Jorge Luís Borges
Pintor
Van Gogh
Jane Krist