Libertação
Cansei-me de tediosamente
marcar passos horizontais,
nos planos dos sentidos e da consciência,
sem alegrar-me de mim mesmo,
há decênios dos outros me afastando,
dentro de minhas grades oxidadas.
Quis romper a grilheta de som e luz
e altear-me ao ignoto mastro vertical,
à linha imaginária do espírito liberto,
contudo cismei, porque sentir-me algemada?,
se nascida livre para a liberdade,
haveria de ser um liberto nato!
Enceguecida restaurei minha cadeia,
trancas douradas e janelas marfim,
na minha masmorra pus estrelas,
sonhos aromados e a batizei paraíso,
mascarada de mentiras convenientes
à inércia do não saber
e continuava outrossim,
infeliz, assídua e intensamente
cercada da escravidão.
Aleluia!
Finalmente vi luz em meu cárcere,
não mais meu latifúndio,
não mais comigo em seu interior,
gemendo solidão nem prisão,
constatei que a vã camuflagem idiota
não ofuscou meu ser mais altivo que ela,
que não ia além de um contraste
entre a ilusão e a mentira, a treva e a chama,
o ego e Eu,
entre nada e Deus.
Abolida a utópica escravidão,
meu Eu voava tal águia etérea,
libérrimo feito luz e som,
natureza e mistérios,
o próprio espírito de Deus
e selei minha gloriosa liberdade
nas asas abertas abraçando os céus!
Santos-SP-04/12/2006