N O R D E S T E.
Amor: é assim que o vento me fala de ti!
Todo o vento se faz uivante.
Geme, se contorce, suicida-se,
Na rede elétrica debate-se, agonizante.
Sibila, grita, desespera-se,
Com ira etérea precipita-se,
Revoltado, inflado, inconseqüente altera-se.
Invade pela persiana no escuro, solitário.
O que ele pretende me dizer?
Nada?- Chora silvestre e raivoso.
Fustiga num bufido, de repente,
As secas folhas noturnas dormidas.
Adeja irreverente, nômade, perdido.
Amaina-se, mimoso e fresco.
Faço-lhe poesias, abranda-se em:
Brisa suave, aragem gostosa, profunda.
Fala-me carinhoso, manso e sestroso.
Segreda-me mensagens íntimas do norte,
Dos mares, dos portos, das naves de Santana.
Assanha-se em lufadas pueris.
Dela tu me confidencias em sussurros os segredos.
Vento indiscreto, moleque afoito!
Estás a ouvir, à espreita nas janelas,
Sorrateiro, brincando com os seus cabelos,
Maroto, solto, a beijar-lhe as faces?
Diga-me espião invisível e olheiro?
Fofoqueiro, inconveniente, imprevisível.
O que ela tem dito de mim?
Conta-me confidente, fantasma onipresente.
Se bem escutas, por certo, falas de mim.
Eráclito.