N O R D E S T E.

 

 

 

Amor: é assim que o vento me fala de ti!

 

Todo o vento se faz uivante.

Geme, se contorce, suicida-se,

Na rede elétrica debate-se, agonizante.

Sibila, grita, desespera-se,

Com ira etérea precipita-se,

Revoltado, inflado, inconseqüente altera-se.

Invade pela persiana no escuro, solitário.

O que ele pretende me dizer?

Nada?- Chora silvestre e raivoso.

Fustiga num bufido, de repente,

As secas folhas noturnas dormidas.

Adeja irreverente, nômade, perdido.

Amaina-se, mimoso e fresco.

Faço-lhe poesias, abranda-se em:

Brisa suave, aragem gostosa, profunda.

Fala-me carinhoso, manso e sestroso.

Segreda-me mensagens íntimas do norte,

Dos mares, dos portos, das naves de Santana.

Assanha-se em lufadas pueris.

Dela tu me confidencias em sussurros os segredos.

Vento indiscreto, moleque afoito!

Estás a ouvir, à espreita nas janelas,

Sorrateiro, brincando com os seus cabelos,

Maroto, solto, a beijar-lhe as faces?

Diga-me espião invisível e olheiro?

Fofoqueiro, inconveniente, imprevisível.

O que ela tem dito de mim?

Conta-me confidente, fantasma onipresente.

Se bem escutas, por certo, falas de mim.

Eráclito.

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 04/12/2006
Código do texto: T309008