A EVANGELISTA.
Lá vem ela! De vestido longo e cabelos compridos, soltos aos ventos; ela se porta esguia e santa, rogando pelos meus olhares obstinados.
Contudo, é uma verdadeira gazela que não foi cantada nos sagrados salmos, foi esquecida e, no entanto, hoje ela é lembrada de forma irreverente por este poeta.
Seu andar é curto e muito engraçado, determinado pela estreiteza do seu vestido, mas nesse trejeito monastérico de vestal, contém certa malícia; ela é sagradamente sensual.
Ela esconde furtivamente debaixo das vestes compridas, o objeto enfocado do desejo e o caminho santo do pecado bom.
Seu corpo indevidamente escondido exibe as linhas perfeitas camufladas e, a robustez dos seus seios, parece querer explodir em seu peito novo e arfante. Apontados para mim.
Eu quero essa evangelista para mim, sabidamente pudica, entretanto isso não é obstáculo e nem prejudica, a minha intenção evangelizadora.
Vou ensinar-lhe com muita freqüência e rara dedicação, a doutrina universal do amor.
Suave é o seu andar, é como se fossem plumas esvoaçante. A sua saia azul de grosso brim, rufa entre as pernas, supostamente bem torneadas.
É um esfregar cadenciado que estremece corações e palpitam desejos, entre eles, o mais comungado e o mais proibido.
Esse sexto mandamento, eu ainda vou extirpá-lo do meu puritano catecismo.
Abraão amou Sarah e Hagar e, ao mesmo tempo, o amor transitou entre as duas, uma judia e a outra egípcia que, aprazado o tempo, deram ao velho patriarca dois bíblicos rebentos.
Tudo acontecido com a chancela e a permissão do Senhor.
Meu Deus, por que eu também não posso ter uma evangelista de cabelos e vestidos longos, antes fosse para mim despida, semidespida ou transparente, a ponto de amá-la todos os dias, de todas as formas e obrigatoriamente amá-la por último horizontalmente.
Sou um independente, ligeiramente ecumênico, meus princípios são os mesmos dela, apenas visto de forma diferente, pois nossos olhos estão direcionados para o inescrutável norte.
Quando ela passa o meu coração exulta em aleluia e, de repente, se faz hosana em minha alma premida e jubilosa ao vê-la, como uma procissão de ternuras depositadas em seus olhos ligeiros e brejeiramente sorrateiros.
Nada posso fazer a não ser um cumprimento discreto de verdadeiro cavalheiro, inclinando-me respeitosamente a sua reverendíssima santidade passante e excitante.
Hei de ousar novos cumprimentos, serei mais expansivo e incisivo, de certa forma, mais atrevido, para arrancar de seus finos lábios o sorriso tão esperado e comprido. Amém! Aleluia!
Eráclito Alírio