Falta de-mais
Faltou sorriso
No sol que parecia cansado e deixava as nuvens trabalharem.
No pessoal que esperava um milagre,
Ou melhor, um ônibus.
No garoto – eu – que se sentava no último banco da lotação, tentando não pensar em nada.
Aí, lá na frente, aparecia um senhorzinho, correndo como louco. Conseguiu fazer o busão parar.
Do nada, veio perguntar se eu estava triste e até que demorei pra responder que não. Sentou-se ao meu lado e sorriu.
- Tu sabes que bairro é esse?
- Bela vista, eu acho.
- Grande, não?
- Sim, sim!
Daí começou a falar do clima, que provavelmente choveria e que, consequentemente, ficaria mais frio do que já está. E eu ouvia. Conclui que não conseguiria ouvir a música no meu mp4 por inteiro e então decidi entrar numa conversa com o senhorzinho. Descobri que ele morava perto da minha casa, que eu parecia um guri do ensino médio, que ele não sabia em que ponto da cidade ia parar até chegar ao correio e que a cada nova pessoa que entrava no ônibus, ele entregava um sorriso de presente.
Até que o meu ponto chegou:
- Vai descer aqui mesmo?
- Vou sim, o teu deve ser na terceira parada, sabe?
- Sei sim... Tudo de bom pra você, rapaz!
- Ah, obrigado. Tudo de bom pro senhor também.
Aí desci e comecei a pensar nas faltas que minha manhã teve.
Na falta que eu tive e
Faltou...
Faltou demais.
Faltou sorriso
Nas pessoas que se sentaram em bancos de ônibus e pararam para refletir
Na vida que passava pela janela.
Nos senhores de si que carregavam nos ombros o dia-a-dia cheio de mentiras
E coisas tolas pra acreditar.
Quando parei de refletir e abri os olhos.
Faltou sorriso
Quando a vi me esperando e fiquei sem saber o que fazer.
Quando a olhei e me encontrei em seu olhar
Quando não consegui expressar tudo o que senti.
Faltou sorriso,
Faltou palavra,
Faltou tudo,
Ou melhor, faltou o nada
Que sempre existiu em mim
Ao ser preenchido por tudo que tu és.