SEPARAR-ME DO ROMPIMENTO

SEPARAR-SE DO ROMPIMENTO

Cheguei sem avisar e fui dizendo (na lata, como dizem),

- Pra mim chega!

- O que representou para nós um dia, já é passado, adeus.

Ante o olhar surpreso e o queixo caído, dei-lhe as costas e saí assoviando.

Com um gingado nos passos e aquele olhar 43, virei a primeira esquina.

- Livre, ate que enfim, agora só bater as asas.

Preciso de roupas novas, sapato novo, tudo novo.

Vou escolher a cor e o modelo que me der na telha,

Chega de pedir uma sugestão para isso ou pra aquilo.

De sacolas na mão, cabelo despenteado pelo vento,

Lá ia eu pelas calçadas e avenidas,

Passava entre os carros e as pessoas,

Numa pressa que eu não sabia explicar.

Encontrei um amigo e fomos tomar umas cervejas no shopping.

Contei-lhe do que tinha acabado de fazer,

Que me sentia muito leve, como há muito não havia.

Gesticulava e falava muito,

Às vezes até alto demais.

Ficamos na lanchonete ate por volta da meia noite.

Peguei um táxi e fui pra casa.

O cansaço e o excesso de bebida,

Foi o necessário pra desmaiar direto na cama.

Acordei com leve dor de cabeça,

Tomei um banho revigorante.

Olhei as sacolas de compras e pensei:

- Depois eu abro, vou me vestir e sair.

Abri o guarda roupa e a primeira camisa que vejo:

Foi a azul de jeans, (presente dela),

Lembrei-me do dia que ganhei e pensei:

- Preciso renovar tudo isso, mas hoje vou usar sem ‘neuras’.

Em um dos bolsos achei um bilhetinho,

‘Te amo pra sempre’

Que merda, porque fui escolher justamente essa camisa.

Imediatamente queimei o pequeno papel,

Mas não vou trocar de camisa, isso passa.

Saí na rua todo agitado e olhando no relógio,

Já era meio dia.

Dobrei duas esquinas no terceiro quarteirão.

Ta ficando louco cara, ela trabalha logo ali adiante.

Interrompi os passos apressados e dei meia volta:

É a força do habito pensei, isso é normal, e ri, num sorriso amarelo.

Mas antes de virar a ultima esquina,

Dei uma olhada para trás.

Toda mulher bonita que passava por mim eu dizia:

- Oi gatinha, ou, como vai?

Sentia que dizia aquilo sem vontade de dizer,

Até que uma respondeu:

- Não se enxerga não. Com esse papo e ainda com aliança de noivo.

Aquilo foi uma bomba que me desabou,

Nem tinha percebido que ainda usava a aliança de noivado.

-Como sou otário, pensei.

Tirei-a do dedo e atirei longe,

Meia hora depois voltava a procurá-la.

Foi aí que caiu minha ficha.

Preciso aceitar que terminei meu namoro.

Preciso me separar do rompimento.

O rio agora tem duas margens distintas,

E a ponte que as unia, ruiu.

SEPARAR-ME DO ROMPIMENTO

É a parte mais difícil.

Isso vai requerer muita insônia, mal estar,

Encontros inesperados outros nem tanto.

Não é tão simples como construir um muro,

Mas ficar a todo instante fazendo inspeção.

Não existe borracha mágica,

Nem vento que leve pra longe,

Uma saudade, uma emoção.

Amadureci a decisão,

Agora preciso me acostumar com o rompimento.

Não querer dizer a toda hora,

Que a culpa foi dela,

Ou que eu tive uma pequena parcela de desatenção.

Mas olhando pelo lado do efeito psicológico,

Não tenho que buscar fragmentos do que ruiu,

Só iria procurar pedaços que me identifique,

Fotos e frases para eu me agarrar,

Desde que me digam:

- Você é um cara legal, ela mereceu.

Não vou ficar enchendo minhas sacolas de velhos tesouros,

De chinelos nº 39/40,

Nem ficar procurando em outros bolsos, outros bilhetinhos.

Preciso separar-me do rompimento.

Di Camargo, 04/07/2011

Di Camargo
Enviado por Di Camargo em 04/07/2011
Código do texto: T3074978
Classificação de conteúdo: seguro