Ritual de amor

Névoas nuas e úmidas cobriam meu pudor,

desmanchando-as teus olhos d’estrela

e tuas mãos a’ardor selvagem,

catando ávidas em minhas entranhas,

as peças-chave que complementam

teu quebra-cabeças e desde então,

acertamos o prumo e o rumo,

abrindo-se que foram, miraculosamente,

as travas do labirinto sinuoso,

que nos detinha perdidos em buscas nada vãs,

eis que exultamos embobecidos e crentes,

mais ainda agora,

que os Mistérios se realizam dentro de nós

a cada instante que dança.

Amado, ouça meu canto balbuciar,

não é apenas a carne que pulsa

no frenético ritual erótico e faminto

de andorinhas fugidias,

nas distâncias longínquas do ninho,

há um colóquio de alma para alma,

embebedando-se uma na outra

e no espelho andarejam e sonham

os mesmos sonhos que outrora permeavam céu e terra

e atualmente ungidos no amor,

criaram noites claras de sol

e dias negros de sossego,

solitude dos mundos nas vozes brandas da quietude,

paradoxalmente quase uma eternidade se ensaiando

para nós e aos nossos pés.

Oh amado, oh amado meu,

beija-flor no jardim de mim,

sugando o néctar que vertem meus rios

agressivos e nervosos por se quererem

degustados e beijaflorerados

pelo teu sutil bico,delicado e sagaz

do macho perfeito e sob medida,

há longas eras encomendado no cosmo,

para esta fêmea aqui,

que se estranha,

frente à tamanha amorosidade me possuindo

e transfigurando no próprio amor,

em sua expressão mais suprema,

apenas e tão somente para dar-me a ti.

Nosso strip-tease diferente oculta insinuando

o que há de delicioso num par de seios de lua,

desfilando nas névoas, em meio a cortinas de luz,

aos olhos da alma que espia e se assanha

sussurrando juras de amor,

nas pernas que se trançam e roçam lábios e nuca,

e nas entranhas se oferecendo em ceia amorosa,

onde ardem espáduas,

montes eretos tocam o céu de prazeres,

abre a gruta seus odores de selva,

enquanto desnudamos corpo e alma,

entre uivos brindamos o nudismo do corpo

e a seguir o brinde da alma silencia

e relaxa o êxtase lascivo, com seu cântico

do bálsamo dos bálsamos.

Santos-SP-01/12/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 01/12/2006
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