FUTURO INDECISO

FUTURO INDECISO: SEM A GRAÇA LINDA DE GLAUCI.

Partirei!

Abandonarei a minha casa, o meu leito, a minha rua, os meus amigos e os meus sonhos.

Silenciarei!

Não falo, apenas escrevo, brincando com as palavras para dar vida à poesia, se falar os ventos levarão, mas se escrever se eternizará.

Fundirei!

A minha vida com ela, por ser pura silenciosa e lubricamente excitante, e assim, serei a própria poesia.

Fugirei!

Do barulho incessante que se faz.

Do cortador de grama e da cantoria,

Da faxineira e da proximidade de duas

Loiras enfermeiras. Duas tentações!

Farei!

Novos poemas de água, baladas comemorativas,

Sonetos de ar, estes últimos que não dizem nada,

Pois, já nascem censurados, será o meu silêncio mudo.

Lembrarei!

Lembranças doces que me são inesquecíveis.

Para as ruins, determinarei a amnésia completa.

Não convém!

Rezarei!

Pouco! Porque demais Deus desconfia.

Minhas preces estão contidas na poesia.

Ela me dá o prazer e isto me basta.

O prazer é uma prece genuína.

Deus sorrindo com a sua criação.

Cismarei!

Com os sonhos já tidos e os por ainda sonhar.

Sonhar é acordar-se por dentro,

Estou eternamente acordado.

Amarei!

Amar é preciso e é bom.

Amar é navegar nos olhos de:

Glauci, coitada, não sabe disso.

Vou amar muito para compensar,

O fato de não ser amado, atualmente.

Já amei muito, penso que muito amei, por isso,

Fiquei desprotegido.

Em vez de ser também amado,

Fui apenas possuído.

Transformar-me-ei!

Em vento, tempestade, chuva, frio, granizo, bonança.

Em mar, plânctons, sal, ondas, peixe e navio.

Em terra, floresta, mineral, rio, cascata, delta.

Em astro, nebulosa, galáxia, buraco negro, quasar, pulsar,

Infinito... Um céu. l

- Mas isso tudo não é o mundo?

- Sim. É a minha morada! Uma poesia!

Há muito já declamada e agora, eu quero ser ela mesma.

Desmanchar-me-ei!

Em trinta e dois elementos básicos, são os que eu conheço.

Que para a sua origem voltarão desagregados de mim.

Pulverizados por aí.

Em energia não localizada, estarei em todos os lugares.

Quando quiser, serei um fóton trânsfugo cujo endereço:

É a energia quântica.

É o infinito também.

E finalmente serei o próprio infinito.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 01/12/2006
Código do texto: T306455