Metamorfose

Era um vento dançante com chuva robusta,

sentia-os vibrarem e contorcerem minhas fibras,

dando impulso ao pulo na lua de fases,

para ratificar tantos sonhos de uma reles humana;

haja céus, luas e sóis!, em meio à chuva tamanha,

quando deparei com aquela doce criança,

ares de abandonada e esquecida,

mirando os céus e pedindo, me disse,

um arco-íris de chocolate, sorrindo feliz,

por antever a graça alcançada.

Sorri e lhe disse também sonhar pedindo a vida,

que comigo apenas flamejava metade dela

e ambas nos esperançamos,

ela brincava de orar,

eu, deixando as crianças de dentro da alma

sonharem e crerem feito crianças,

sem medo, sem dúvida e sem angustia da carência,

tornando-nos vulneráveis à porta aberta do acaso.

Tantas sementes de amor semeei

e com tal força regadas a suspiros sinceros,

que floradas de mirras odorantes nos céus rebentaram,

atalaias eternos,

sulcando atalho em que, subitamente,

a mão das coisas sagradas abriu-se em roseiral,

devassando um arco-íris d’incrível fascínio,

contigo deslizando dos flancos aos meus braços abertos,

enflorescendo de perfumes meus cabelos

e entre risos sonoros aliviados,

constatamos quão belas as nossas metades perdidas,

num abraço de cara e coroa da mesma moeda,

um mundo deitando a nossos pés para sorvermos!

Se outrora sonhar me fazia gaivota menina,

os ares riscando, embobecida pelos prazeres antevistos,

tocar-te me faz um mar adocicado por anjos,

das águas molengas e verdes,

meio encantamento e meio deusa,

meio volúpias e meio raios lunares,

meio risadas da nevasca trincando entranhas etéreas...

Meu amor,

assusta desconhecer esta mulher que te ama,

que sonhava e sonhava,

ora pelo amor transformada,

numa lágrima encantada talvez,

orvalhando o rosal!

Santos-SP-27/11/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 27/11/2006
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