Cântico de amor
Como se a cortina de nimbos s’abrisse
criando dias nas noites,
é incrível o deslumbre de um amor feito o nosso,
que após massacrado e amassado por lágrimas de sangue
se fortalece na esperança imortal,
feito um árido chão cansado,
que não pisoteado e revolvido,
jamais fecundaria os rosais,
que ora ungiram as nossas pegadas,
marcadas por migalhas de amor sonhado,
amor fronteiriço de tempos de palor e de exultação!
São pássaros pousados em meus ombros,
saltitando e cantando em dueto com harpas celestiais,
as hirtas pedras ovóides lavadas a lágrimas de sal,
no caminho que outrora sem ti andarilhei,
porquanto teu beijo molhado de lágrima gozosa,
amado meu, agora e sempre terei para esquecer
cada mágoa soluçada de ausência,
cada martírio que me esmagava a memória
pela ânsia de não ser caça sem dono!
Sente meu amor,
como as vidas de dois que se amam é uma única vida,
como têm um cheiro uníssono nossos perfumes somados
e nossas sombras casadas têm o formato de um só coração,
pulsando entre todas as luas e todos os sóis perdidos
na imensidade divina,
desde que rios soturnos que nos inundavam
no ciclo da separação,
à procura e à procura,
sonhando e esperando,
desembocaram todos no mar das delícias
e fizeram nossa vida um eterno namoriscar de vagas perfeitas!
Santos-SP-26/11/2006