Mar de amor
Este amor exasperado,
que plantou luz na treva e gerânios no deserto,
agarrou-me pela alma sem mais largar,
com a calma e o candor de um amor prestante,
que além disso,
acendeu a lâmpada na tristeza da memória
e floresceu a candeia dos amanhãs abrasados,
entrou como sol branco na minha escura saudade,
de um amor enfurecido e viril,
com o branco das auroras de fímbria adocicada
e de auroras banhou meu coração negro,
remota noite sem aurora!
Este amor raiou o instante infindo
e pássaro azul do vale longe me lançou,
longe, longe, onde ainda que os olhos não me vejam,
minha voz sussurrada jamais cala,
e seu mago fermento me fez crescer
e correr e tudo penetrar.
Sou o mar!, que tudo banha,
cujo silêncio não dorme,
e não obstante, em minha grandeza,
sou apenas pedaços frágeis incompletos,
sem teu amor de homem voraz a devorar-me!
Minhas carnes liquefeitas fazes arder,
de mais que um incrível desejo,
de uma carência vital,
onde só o que me basta é tua presença,
sem saudade, sem talvez, sem palor,
saciando-me dentro dos dias, das noites,
das asas, das insanas procuras,
que depois de me perderem e matarem,
quedaram pasmas,
que renasci um mar bambino,
amorosamente volátil e sagaz,
dependente do teu querer!
Meus desejos todos são teus,
leva-os contigo, amor meu,
que de mim se apartaram desde que pelo
amor me fiz alma eterna perdida dentro de ti
e de mim me esqueci!
Desde que meu corpo estremeceu na relva úmida
com sede de estrelas e gineceus do teu bosque
e desde que teu corpo de asas
roçou etéreas melodias
e as balbulicou amoroso em meus ouvidos,
é que em ti se penduraram todas
as minhas ânsias de amor e vida!
Santos-SP-25/11/2006