O vento
Hoje eu não quero suas palavras, beijos ou promessas.
Não quero seu sorriso de herói de romance francês, nem o seu olhar de enchente que me derruba violentamente, me carrega por caminhos onde não quero estar e me faz cair desprotegida, de joelhos aos seus pés como quem implora por socorro.
Ás vezes eu sou muito perigosa. Preciso me proteger de mim mesma.
Hoje eu não quero paisagens românticas, pôr-do-sol, estrelas e luar.
Hoje eu só preciso inventar a sua presença, minha brincadeira preferida.
Funciona assim: eu fecho os olhos e vejo você de braços abertos me envolvendo com firmeza, com carinho e talvez até alguma emoção. E eu imagino que o meu mundo inteiro, meus medos e desejos cabem nesse abraço. Faço uns breves instantes durarem uma eternidade em meu pensamento. E adormeço gravando sorrisos em meu travesseiro.
Hoje eu quero apenas o silêncio absoluto e uma brisa suave para amaciar o momento.
Não há nada à temer, eu prometo. Já entendi que você é como o vento, passeia por todos os lugares do mundo, invisível, só eu posso te ver.
Confesso que já tentei fugir para bem longe onde a dor não possa me alcançar, mas falta coragem para seguir sozinha, vem a tempestade, o frio e a neve. Então eu volto. E cada vez que eu volto, você está diferente.
Deixo minhas inseguranças trancadas em um baú embaixo da cama, abro os braços e o coração. Livre, eu te espero..
Você parece não ter medo de nada. Quais são os seus fantasmas? Quais são os seus segredos?
Abro as portas, abro as janelas. Respiro. Deixo o ar entrar.
Eu sei que não posso prender o vento. Mas eu posso abrir os braços e senti-lo quando eu quiser.