PARA UMA MULHER MADURA E ANÕNIMA

PARA UMA MULHER MADURA E ANÔNIMA.

Por que, ó querida amiga, havias escondido de mim o teu belo nome?

Por ventura querias passar despercebida, anônima, sem ao menos sermos oficialmente apresentados?

Se tu escondeste de mim, ousada loira, estavas guardando para quem?

Teu nome, Neli, eu vou devassá-lo até as últimas conseqüências e, se tal intento eu não conseguir, usá-lo-ei em meus poemas, para fazê-lo dançar nas rimas perfeitas que já antevi.

Mulher, o teu sorriso é fácil e o teu encanto anda escondido. Desperta e tenta me decifrar.

Sabidamente te rodeio num comportamento fraternal, num certo baile, numa bucólica pousada e, à noite, entre damas e valetes, quando tu rompes a concentração devida com uma gostosa gargalhada.

Meus sonhos estão quase fenecidos, tu bem sabes, no entanto, nada fazes para ressuscitá-los. Por quê?

Será que alimentamos anseios divergentes ou, na verdade, eles permanecem anônimos como era o teu nome até então?

Um dia te falarei dos meus sonhos, das minhas angústias. As minhas dores tu já conhece bem, mas nem que seja no apocalipse final da minha vida, extravasarei as minhas emoções e plantarei em ti o quê de mais secreto tenho: a minha lealdade.

Mulher madura, impávida guerreira de Athenas, tudo em ti se acumula em harmonia e combinação, é o teu cabelo de furioso trigo maduro, é o teu suéter verde-musgo combinando em perfeita harmonia com a relva macia e o verde arbusto quando tu passas por certo jardim.

Hoje, eu te vi vestida de um roxo suave e em paz com os teus lábios de puro carmesim. Diria até que, tu pareces com uma uva silvestre sazonada, pronta a ser colhida com todos os cuidados.

Tenho contigo apostado moedas várias, geralmente as perco, raramente as ganho, mas meu jogo é diferente, talvez enigmático, diria até que, é um jogo de moedas raras, de cuja raridade, eu penso não existirem mais.

As moedas que perambulam pelos meus sonhos não tilintam como as comuns, elas intermitentes cintilam parecidas com os teus olhos cobreados.

Pretendo delas, possuir muitas e por muito tempo, espero, todavia, poder encontrar as chaves do meu cofre emocional que alguém, um dia, usurpou de mim, impossibilitando-me em desvendar o segredo contido. E assim, permanece fechado o cofre forte das minhas emoções.

A angústia me tortura nas noites mal dormidas e a mágoa é um veneno que corre em minhas artérias, travando a minha forma de ser.

É a recorrência de um passado que me persegue como mariposa estonteada, fustigando-me no suplício da solidão.

Mas o teu nome Neli (Béia), a tua companhia, a tua amizade, têm sido um anestésico para as minhas dores propiciando-me momentos alegres.

Sinto até que, algum incenso benéfico está se evolando do turíbulo da minha vida.

Este poema-prosa foi inspirado num xerox que eu vi, onde estava gravado o teu lindo nome, ó Neli.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 24/11/2006
Código do texto: T299867