MULHER IMPOSSÍVEL (M.A.S)

MULHER IMPOSSIVEL (M. A. S.).

Não quero o teu silêncio indeciso, a tua presença, o teu sorriso e nem um gesto teu perdido.

De certa forma compreendo a tua distância calada, é como se tu bastasse para o teu pequeno e pobre mundo, limitado pela tua insensibilidade de mulher.

Sei que é cedo para tu dizeres se me queres, mas essa espera desmedida enche e oprime fazendo-me naufragar em atrozes dúvidas.

Penso estar me expondo ao ridículo desnecessariamente, fazendo-me presente com poemas que só de mim falam, e que, talvez estejam fazendo-te muito mal com a minha insistência obstinada.

No entanto, seria inútil não compô-los, por isso teimo em repeti-los, acreditando que, ainda possam fazer eco em teu coração.

Eles são uns gritos sinceros a tua parcialidade muda e ensimesmada.

Não quero o teu silêncio na noite vazia, e nem a tua reserva infinda como freira castiça presa aos votos impensados.

Assim sendo, vou determiná-los ao esquecimento, depositando-os no arquivo implacável, o cofre indevassável das minhas emoções.

Não havendo uma ressonância receptiva que oscile em tua alma, uma sombra de benquerença, por certo, também não haverá uma reciprocidade simpática e desejosa de mim.

Voltarei para a minha eterna reclusão, e num recolhimento como asceta virtuoso e hermético, determinarei o esquecimento completo da tua impossibilidade.

Contudo, não deixarei de escrevê-los, serão poemas solitários e confusos que se envolverão somente com as minhas saudades e a tua lembrança.

O poeta é um ser solitário em sua essência (status quo), é a sua natureza telúrica que o faz assim.

Quando o objeto da sua poesia não desce do pedestal, ela se transforma num pélago de indecisões, as piores das decisões.

O poeta diante dessa práxis de vida se recolhe em copas e não em prantos.

Mesmo assim, continuarás povoando os meus poemas, será uma forma virtual de amor que se tornará necessário a minha pobre existência.

Temo que chegue logo a primavera, essa estação florida que se aproxima, e que tu não desabroches para mim, fazendo-te cair, de repente, nos braços do teu próprio destino já traçado por ínvios caminhos.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 24/11/2006
Código do texto: T299854