BALADA DA BALCONISTA

BALADA DA BALCONISTA.

Ó menina, que estais sempre de prontidão,

Sentinela avançada da mercadologia.

Centauresa linda, sorridente na mesma posição.

Vendei, ó menina (insisti), vendei as mercadorias.

Para o nosso bem e o bem de quem as comprar.

Plásticos, cadeiras, mesas e as famigeradas gaiolas.

Atendei bem, sorride, sede sempre ímpar.

Às senhoras, às moças, às velhotas e aos boiólas.

Ó transitória estátua, estática a decifrar!

Fazei-os, de pronto, na loja entrar,

Para que vejam as mercadorias que estão quietas,

E que possam apreciar e, de repente, desejar.

Mudai-as, mudai-as para qualquer lugar,

As espanando e expondo muito bem.

Contudo, ó menina, jamais vos esquecei,

É necessário e urge que as vendais,

Com o teu sorriso e o indizível charme,

De balconista linda e muita esperta.

Vendei tudo, esforçai-vos, portanto, ó menina!

Carimbai-as com a chancela da tua simpatia,

A vista, em consignação ou no ingrato crediário.

Mas atenção! Em hipótese alguma não vendei,

O meu inflexível sonho. Ouviu Simone!

Porque os meus sonhos são a fortuna,

Que consegui amealhar com a minha vida.

Ó menina, prestai atenção ao que vou dizer:

- Quem tem um sonho é mais afortunado,

Do que aquele que possui todos os fatos.

Por isso, sinto-me razoavelmente abastado.

Neste momento em que escrevo e exato,

Pelo simples fato de estares sempre comigo,

Também vós sois a minha linda riqueza,

Nessa labuta paciente e com presteza,

Sofrendo todos os dias com a mesmice,

Mercantilizada de sempre querer vender,

As mercadorias várias e a grande chatice,

De não escambar os nossos irreprimíveis sonhos.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 23/11/2006
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