BALADA DA BALCONISTA
BALADA DA BALCONISTA.
Ó menina, que estais sempre de prontidão,
Sentinela avançada da mercadologia.
Centauresa linda, sorridente na mesma posição.
Vendei, ó menina (insisti), vendei as mercadorias.
Para o nosso bem e o bem de quem as comprar.
Plásticos, cadeiras, mesas e as famigeradas gaiolas.
Atendei bem, sorride, sede sempre ímpar.
Às senhoras, às moças, às velhotas e aos boiólas.
Ó transitória estátua, estática a decifrar!
Fazei-os, de pronto, na loja entrar,
Para que vejam as mercadorias que estão quietas,
E que possam apreciar e, de repente, desejar.
Mudai-as, mudai-as para qualquer lugar,
As espanando e expondo muito bem.
Contudo, ó menina, jamais vos esquecei,
É necessário e urge que as vendais,
Com o teu sorriso e o indizível charme,
De balconista linda e muita esperta.
Vendei tudo, esforçai-vos, portanto, ó menina!
Carimbai-as com a chancela da tua simpatia,
A vista, em consignação ou no ingrato crediário.
Mas atenção! Em hipótese alguma não vendei,
O meu inflexível sonho. Ouviu Simone!
Porque os meus sonhos são a fortuna,
Que consegui amealhar com a minha vida.
Ó menina, prestai atenção ao que vou dizer:
- Quem tem um sonho é mais afortunado,
Do que aquele que possui todos os fatos.
Por isso, sinto-me razoavelmente abastado.
Neste momento em que escrevo e exato,
Pelo simples fato de estares sempre comigo,
Também vós sois a minha linda riqueza,
Nessa labuta paciente e com presteza,
Sofrendo todos os dias com a mesmice,
Mercantilizada de sempre querer vender,
As mercadorias várias e a grande chatice,
De não escambar os nossos irreprimíveis sonhos.
Eráclito Alírio