Adorável estranho amor

Euforia dominando as expectativas,

o inesperado se insinuando no teu cheio másculo,

que ousa arrebentar minhas travas...

Oh, espera infernal irresistível,

enquanto a alma brada desatina

aos teus sussurros descabelando meus pensamentos,

nutrindo devaneios adoçados a desvario

e subestimando por completo meus intentos.

São sussurros chegados nas mãos do vento,

que seduzem e te desenham as formas em delírio

e esta sonata de sussurros deliciosamente indecentes,

é uma chuva que cai em mim e me lava de amor!

Adeus, estrelas encardidas!

Estranho poder,

a chuva amoleceu as pedras de meus sonhos,

e fê-las se desmancharem dentro dos meus murmúrios,

adocicados com pecado irresistível.

Vêm nos ares, amor querido,

tal flecha incandescente,

teus beijos inflamados por desejos copulados,

tão antigos quanto a nossa existência

e agora vejo o céu deitar-se ao chão - nossa cama etérea,

em cujo alvoroço intenso flores rebentarão incessantemente

e transbordarão em nossos sexos

enfurecidos e enflorescidos!

Quantas vezes o orvalho mádido m’agasalhou sonhos,

intuindo tua chegara amorosa,

e que eu preparasse a ceia de néctar em meu colo sedento,

que mais sedento ainda da tua viagem chegarias,

para nele saciar o vale de ânsias cansadas da minha falta.

E noutras vezes, amor perfeito,

sim, assim te chamo,

porque vieste como a trepadeira que no chão brotou

e paulatinamente laçou as flores, as nuvens e o mundo,

num conquistar aceso e progressivo,

temperando aquelas ânsias insanas,

que persistem até o final.

E tantas outras vezes, teu beijo suposto

emprestou ardor ao sol para aquecer e enlouquecer-me,

em frenesi apaixonante de preliminares alucinadas,

orgasmicamente programadas,

dulcificadas e sublimizadas,

perfume do meu destino!

Abrandando agora os devaneios,

deliro, pasmo e desmaio por conta da

emoção que me toma e renasce a nova mulher

que dos sonhos saiu,

pendurada pelo tênue fio d’estrelas flamejantes,

guiada pela meiga ilusão,

ora dominada pela volúpia de fêmea

que outrora escondia no tempo

o tamanho do seu amor.

Santos-SP-21/11/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 21/11/2006
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