Coquetel de Sonhos II
Chega a noite mansa,
escondendo nas beiradas da meiguice crepuscular
o bulício vespertino.
Meu instinto, tanto devaneador quanto selvagem despertado,
põe-se a afrontar o silogismo que sufoca os sonhos,
aflito, ávido, faminto, apenas de amor nutrido,
em busca das chaves que abrem o sonho
libidinoso como um sol desnudo,
que promiscui o mundo de uma só vez,
sonho em que te encontrarei, amor da minha vida,
flanando nu, nos nimbos enfeitiçados do desejo,
que deitam no céu, desnudo em pelo e sonhos,
vestindo do amor os cheiros que entontecem,
as luzes liquefeitas que enceguecem,
as canções inaudíveis aos mortais
e o despudor de quem vive só para amar!
Chega a noite de mil mãos e olhos,
dentro do meu sono espiando,
ruborizada com minhas intenções nada pudicas,
nada conservadoras, nada cotidianas,
inversa e radicalmente eróticas,
à medida do amor que me rasga o peito,
arranha a pele, assanha as entranhas
e posterga meu sorriso mais sensual e brejeiro
para ti, tão somente.
A viagem cósmica feita de um raio úmido e negro,
imã doutrinado pelos Mistérios do amor perfeito,
tratou de unir as águas de nossos corações,
metidas no sonho marcado,
como quem cumpre prece sagrada
e escalando nossos silêncios,
atravessou nossas pálpebras,
num lento e delicado avançar vigoroso,
tal tropel de cavalos virgens no cio,
que enlouquecem por completo,
ao descobrirem a voluptuosidade.
Oh amor meu,
quando pensava tudo do amor saber,
aprendi que justamente assim pensava,
por conhecer um universo limitado e pálido,
depois, contudo, que meu corpo
no teu corpo causou inundação
e que minha boca nos teus lábios fez sinfonia,
que tua língua, lavando meus segredos
balbuciou canções chovidas,
e tuas fogosas mãos têm as viagens do vento acariciante,
que nossas penugens roçando
têm sabor orvalhado da alvorada
e que és tu o pivô do meu sonho e minha realidade,
vi que nada fui, que inexisti,
pura e simplesmente,
antes do teu amor.
Santos-SP-21/11/2006