Coquetel de sonhos I
No afã de a um amarrar outro sonho,
destes sonhos que inundam sonhos,
nascendo e crescendo dentro de sonhos famintos,
que comem e bebem sonhos,
dentro de sonhos sonhando,
enveredei minhas ânsias loucas e
te vi chegando em mim, cobrindo meus cabelos
com flores rubras despetaladas e cheirosas
e teus beijos de vinha me lavando o corpo,
que foi todo desabrochando,
rompendo-me as têmporas
estranha e dulcificante paixão.
Minhas ramas ouriçadas,
asas e pernas se abriram,
todo o meu corpo altar se fez
e te tronou meu rei eterno,
de grutas perfumadas se apossando,
às mil bocas de vampiro apaixonado,
afundando as carnes sedentas das minhas
nos meu riacho profundo cheio de línguas vorazes e doces.
Delírios!
Êxtase noturno vazando carícias
deliciosamente pecaminosas...
até que se abre a porta do sonho e te vais.
Grito, esperneio e me arrasto. E te vais,
deixando-me sem ti e sem sonhos,
aturdida pelo complô de sonhos salteadores,
fugazes ladrões de emoção dos amantes.
A mim restam mais mil e um sonhos e
cada noite para muito sonhar,
vasculhando sonho a sonho,
até o nosso colóquio amoroso no sonho comum,
verdadeiramente sonhado,
não um sonho ainda programado,
como este que te arrancou severamente
dos meus braços, porta afora,
quando eu te amava,
pensando sonhar o teu sonho.
Santos-SP-20/11/2006