Noturno
Foi uma noite quente de lua
que me veio buscar
e me acendeu o desejo de raiar tal estrela cadente.
Fui. Levitei. Asas surgiram. D’onde não sei.
Sei que perpassei brumas,
espaços e de veredas etéreas me impregnei,
vagando e vagando, vaga-lume forasteiro,
entre as floradas do céu,
feliz por me sentir desatar das grilhetas da vida,
jamais alma solitária sem destino,
porquanto desde que tuas migalhas perfumadas
constelam este céu de Deus,
perambulo em teu percalço,
feito moeda invisível,
cara sem coroa,
esperando retumbarem os sinos do amor.
Eu, facho luminoso,
um eco, um fluido, leve canção,
doce intenção, fragrância discreta,
pote lacrado de mel, pétalas cerradas
querendo arrebentar em botão, asas infladas.
Ardem paixão meus dedos de radar,
indicando os caminhos onde o sol a noite clareia
e teus olhos de estrela refletem em meu rio interior,
cada ânsia, cada volúpia adormecida,
que neste encanto noturno,
sagaz e intempestivamente me dominam a mente,
o corpo e o que há de mais divino em mim.
Flanar pelo amor medos supera,
por isto enveredei sem bagagem,
sem adeus, passado ou futuro,
sem roupas nem peles,
apenas o amor extravasado
que largos horizontes ganharam
e a avidez de sonhos cumprir e aos teus acasalar,
como gota única de lua,
fundir e tatuar-me perpetuamente em ti,
meu amor eterno.
Santos-SP-20/11/2006