Era uma sexta-feira...

O sol já começava a me incomodar. Eu tinha calculado cinco minutos de espera e já haviam passado mais de dez. As pessoas passavam, sorriam para mim, acenavam e eu respondia com um sorriso cansado.

Duas estudantes entraram em um carro e notaram algo engraçado na traseira de um carro parado à minha frente. Fiquei curioso. Seria um risco? Sujeira? Alguma batida bem feia? Decidi prestar atenção quando ele saísse. Olhei para esquerda e vi a amiga dela conversando com alguém na porta de um carro, vi mais pessoas entrarem e o carro sair. Onde será que ela estava?

Perdi a saída do carro com algo na traseira. Ri de mim mesmo.

A amiga dela passou por mim e deu um sorriso. Qual seria o significado daquele sorriso? Eu sorri de volta, mas o que ela quis dizer com aquilo? Acho que me perdi pensando naquilo. Já haviam passado quinze minutos e a carona não chegava. Quis entrar. Estava com sede.

Ela surgiu. Vi ela vindo. Tentei disfarçar. Ela estava usando verde - como ela disse que eu a veria muitas vezes - com um pedacinho da barriga aparecendo. Calça, ao contrário dos últimos dias, em que ela veio com as pernas aparecendo. Ela carregava uma lata de Kuat. Andava sozinha, dando o ritmo de seus passos. Adoro o ritmo dos passos dela.

Baixei a cabeça e me imaginei pegando na mão dela e correndo com ela para um lugar mais quieto. Onde não fosse possível ouvir as outras pessoas sussurrando. Onde o som da rua não existisse. Onde não escutasse o som dos meus pensamentos. Um lugar onde só a voz dela existisse. A voz, as mãos, a boca...

Voltei em busca dela. Ela estava perto. Virou em minha direção e me ofereceu guaraná sem falar nada. Afinal, ela não é uma garota que fala muito. Eu aceitei em silêncio. Ela estava virando. Saindo de perto. Eu chamei ela de volta. Precisava mantê-la perto de mim por mais tempo. Perguntei onde ela morava, ela me respondeu. Enrolei no assunto. Perguntei se ela iria ficar à tarde no colégio, ela me respondeu. Enrolei no assunto. Enrolei na conversa e acho que me perdi um pouco. Ofereci carona, ela não aceitou, "meu pai já está vindo". Ela se virou e foi para perto de sua amiga.

Minha cabeça se encheu.

Será que falei algo errado? Foi tão gracioso o jeito como ela ofereceu bebida. Será que ela estava tentando se aproximar? Talvez tenha sido o jeito que ela encontrou para conversar um pouco comigo. Por que é que ela sempre parece estar fugindo?

Minha carona chegou, entrei no carro. Olho para ela. Cinto de segurança. Olho novamente e ela acena um tchau e me sorri. Só vou encontrá-la novamente daqui sessente e três horas, mais ou menos... Devolvo o aceno e sorrio para aquele sorriso.

"She's a much more beautiful person than she'll ever know"

- SR-71