Lipoaspiração.

LIPOASPIRAÇÃO.

A chuva lipoaspirava o azul da tarde que se contorcia nas rajadas sem direção, em lufadas imprevisíveis aos vestidos das meninas descuidadas.

Alguém roda o disco

Do telefone que chama,

Dizendo: A pessoa que ama,

Chama-te. Corre risco.

É o risco bruto em luta,

Com a deplorável matéria.

Desgastada na ignóbil labuta,

De sonhos, ilusões e quimeras.

Saio como relâmpago inconseqüente,

Numa tarde boa, que já não era.

Olfateio o cheiro doente,

Esparramado pelo saguão, era dela.

Os sonhos feneciam,

Com ela bem rosada,

A combinar com o que lhe vestiram.

A matéria já era dopada.

A lâmina fria do bisturi,

Verteu-lhe o corpo em sangue.

Rubro de amor foi o que eu vi,

Sobre a amada já exangue.

Nos meus braços, jogada, eu a levava.

A amada ainda dormente,

Mesmo assim, ela ainda dava,

Afagos e beijos quentes.

A boca pálida e fria exalava,

Um odor clínico de cloro.

Adormecida ainda ela amava:

Paixão, paixãozinha, eu te adoro.

Lá se foram as gordurinhas,

As curvinhas que eu tanto amava, e que

Nas horas nuas me entretinha,

Em carinhos plenos as apalpava.

A amada fez uma lipoaspiração,

Talvez vaidosa, para me agradar,

E me entregar com maior sedução,

Suas brancas carnes, oráculo para adorar.

Paixãozinha, tu és uma grande paixão.

Se duvidares por um segundo do meu amor.

Submeto-me à eutanásia, à tortura e à dor.

E, em bandeja de prata, te dou o meu coração.

E a amada se ria de tudo, era feliz.

Seu rosto era só um sorriso.

Seus lábios sempre bem lisos,

Para o último beijo, se preciso.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 18/11/2006
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