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Sinto na pele, escuto o som do tênue salto da antes verde folha, move a retina, experimento no tato, no cheiro e até no gosto, a chegada do Outono. Lembro-me de um tempo que vivi não sei onde, de ruas pavimentadas com grandes pedras, iluminadas com lampiões de gás, lá em cima dos postes sendo acesos por homens com uma tocha na ponta de uma grande haste. Momento nostálgico, romântico e feliz. A rua enclarece. Vejo senhoras nas janelas amarrando com lenços leves os cabelos já emaranhados pelo vento da noite e sendo envoltos por folhas agora amarelas, quase secas , transeuntes noturnos voadores na rua vazia. Pensam elas, serem morcegos ou outra coisa qualquer , pois a sensação leve e rápida com iluminação baixa camufla o carinho que elas dão; se a natureza emudecesse neste momento, ouviriam a dança e o cantar da descida das folhas;
porque Outono é a estação do carinho.
(Recordações sem idade) Yara L. Oliveira - Outono 2011
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Com licença dos autores ::
Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz
Da sua luzinha verde azulada
Que iluminava a minha janela
Do almofadinha lá na calçada
Palheta branca, calça apertada
Do bilboquê, do diabolô
Me dá foguinho, vai no vizinho
De pular corda, brincar de roda
De benjamim, jagunçu e chiquinho
Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz
Do bonde aberto, do carvoeiro
Do vossoureiro, com seu pregão
Da vovózinha, muito branquinha
Fazendo roscas, sequilhos e pão
Da garoinha fria, fininha
Escorregando pela vidraça
Do sabugueiro grande e cheiroso
Lá no quintal da rua da graça
Lampião de gás
Lampião de gás
Quanta saudade
Você me traz
Lampião de Gás - Inezita Barroso - Composição: Zica Bérgami
Imagem: Lampiões e Janelas em Portugal, por Luis Testa