Via Correio

Dobrei a folha do velino, lambi o envelope passando saliva no selo, lacrimejei o nome, sublinhei o endereço. Peguei minha bíblia, lancei

minha garrafa na goela preta de uma caixa engolidora no posto 117.

Ali, onde esperanças são depositadas em papéis, nada havia,

nem jornais nem impressos reservados ao correio sentimental.

Esperei.

Embriagava-me em vão. Sofria. Teria preferido que minha encomenda voltasse, suja e amassada,(destinatário não encontrado,

partiu sem deixar novo endereço, favor devolver ao remetente).

Mais tarde tive a paciência de ligar e quem dera tivesse ouvido " o número desse telefone mudou, favor consultar o catálogo", mas não, o que ouvi foi a mesma voz irônica, denunciando o que eu já devia saber.

A resposta que eu esperava não veio, mas se viesse seria chamada de solidão.

O itinerário de minha decadência emocional tinha número de casa,

nome de rua e alguém ali, bem no portão.

AURORA ZANLUCHI
Enviado por AURORA ZANLUCHI em 05/02/2011
Reeditado em 06/11/2011
Código do texto: T2774659
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