O Dia Depois
No dia seguinte tudo estava diferente.
O ambiente estava cinza e enfarruscado, assim como chuvoso.
O café estava amargo como o fundo da minha alma
e a sombra elétrica das lembranças recentes.
Eu não podia justificar o meu gozo por aquele amor,
pela ternura que em mim aparecia em relevo
toda vez que sentia aquela presença.
Tinha sido tocada profundamente,
internamente visitada e minhas fibras sensibilizadas até
meus mais longíquos horizontes.
A conquista, a entrega, as humilhações, as decepções,
as idas, as voltas...o fracasso.
(E me procura toda vez que está com algum problema
e se vai quando melhora. Um dia se tornará incurável
e ficará comigo, sem despedidas e eu o cuidarei.)
Mas o dia seguinte é sempre pálido, e enquanto o sol reflete-se
em meus óculos, penso em quando sairei dessa prisão cinzenta,
lembrando-me, timidamente, que não mereço isso.
Gostaria de esconder-me no fundo do seu armário,
e envolvida por seus ternos cheirosos
adormecer até que me encontre...