Um Brinde à Verdade

Escancarei a janela.

Cheiro de verdade subiu ao meu nariz.

Tudo o que queria estava diante dos meus olhos

e mesmo assim, curiosamente,

eu não me sentia feliz.

Há tempos eu não conseguia dormir

e passava noites inteiras a virar-me na cama.

Desfiava situações passadas, ilusões acreditadas,

durante horas intermináveis.

Mas só entende quem ama.

Essa noite levantei-me exausta e sai de casa.

Madrugada alta, ruas desertas numa chuva intensa.

Meus pensamentos voavam à minha frente,

luzes de neon brilhavam no asfalto húmido.

fazendo a solidão ser imensa...

Tensa, corpo rígido, boneca de porcelana.

Manipulada internamente por tantos anos,

minhas fibras nervosas, sensíveis, não sabiam o que fazer.

Nem mesmo o desejo de saber a verdade

acreditava que o que sempre pedi

fosse mesmo acontecer.

Eu amo aquele olhar, mas prefiro não ver.

Eu amo aquele sorriso e não consigo imitá-lo.

Eu repreendo qualquer sentimento saliente.

Eu fecho a janela para sempre

sabendo que a paisagem que ela emoldurava

enganava-me cruelmente.

Chorei pelo que perdia...

um amor clandestino que só a mim pertenceu, esqueço.

Estremeci sob a verdade açoite, doeu-me visceralmente,

cada letra diante dos olhos...

Mas, aliviada, por elas agradeço.

Gracias, gracias, gracias...

AURORA ZANLUCHI
Enviado por AURORA ZANLUCHI em 07/01/2011
Reeditado em 06/11/2011
Código do texto: T2714406
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.