Esquecer Por Quê?
Como Esquecer. Este misto de pergunta e título me pegou de surpresa. Nunca parei pra pensar o quanto essas duas palavrinhas nos levam a tomar essa ou aquela decisão. Fiquei matutando sobre isso o dia inteiro, pensando nas dezenas de coisas que eu gostaria de esquecer, mas que, como uma alma penada, tende a aparecer de repente, me deixando perplexa. Desde um simples dedo quebrado mal curado, que vira e mexe teima em doer, até um grande amor que teima em perdurar ao longo dos anos.
Esquecer o passado. Talvez essa seja a maior mentira e idiotice que tentaram inventar. Esquecer por quê? Seria como apagar parte da sua existência, como se vivesse etapas estanques da sua vida. Esquecendo o passado, muitas ações do presente também se modificariam. Não seríamos o que somos hoje, seríamos estranhos a nós mesmos. Divagar entre presente-passado é o que nos leva tomar às ações futuras. Aceitar o que aconteceu e aprender a conviver com que se tornou passado, deve servir de motivação pra seguir em frente, não uma busca quase que obsessiva em anular contextos de sua vida. O que passou é tão importante quanto o que há de vir. Você só é pelo que já foi e só será pelo que é hoje.
E é claro de não poderia deixar de mencionar sobre o amor. Ao contrário do que diz a letra de uma música dos Los Hermanos, “o esforço pra lembrar é a vontade de esquecer”, acredito que, em se tratando do amor, o esforço pra esquecer é a vontade de lembrar. Sempre existirão pessoas que terão o poder de nos fazer lembrar, simplesmente pela importância que elas tiveram em nossa vida. Ou que, de alguma maneira, ainda têm...
O que escrevo hoje será parte da minha história amanhã. Fará parte do arquivo do blog. E só to escrevendo isso porque li sobre um filme que está para estrear amanhã. Percebeu o quanto é confuso discernir passado-presente-futuro? Uma ação de agora está baseada no que li pela manhã, mas que de fato irá se consolidar no dia seguinte. Por esse motivo, acredito que o amor seja a coisa que mais teima em permanecer presente, mesmo tendo as raízes no passado. Assim como o meu dedo mal curado que dói ocasionalmente, me lembro de momentos e pessoas especiais que me deixaram saudade. Não preciso arrancar meu dedo fora para seguir em frente, pra pisar o chão, pra pular. Só modifiquei a maneira de fazer isso, tendo mais cautela. Descobri que não preciso arrancar um grande amor de dentro de mim, simplesmente pelo fato de que, com toda sua grandeza, jogando-o fora, teria que jogar também parte de mim, parte do que sou. Não quero esquecer o quanto amei ou negar o quanto amo, pois isso me servirá de norte para amores futuros (que não significa necessariamente novas pessoas, mas sim de novas perspectivas!).
Portanto, pense duas vezes antes de querer esquecer o gosto do jiló. Três antes de querer esquecer uma ressaca. Quatro antes de querer esquecer um amor. Ter um referencial é essencial para a vida. Viva o presente, construa o futuro, mas não se esqueça de seu memorial.
* Motivado pela ânsia em assistir a produção cinematográfica brasileira "Como Esquecer"