Ancorar

O que ergo é a âncora adormecida e exausta, e já era hora de arrumar o quarto.

Chega o sol e eu corro para a alegria, cujo som tanto invade, quanto arrebenta. Arrebenta e rasga.

Nossa! E é tanta valsa. Não sei quantos são os apartamentos vasculhados. Os parques da minha infância. O circo. O palhaço e o réu.

E se corro é porque aumenta em mim a desvairada necessidade do que me é por dentro. Do que recebe de mim a resposta mais precisa, a que eu queria, a mais coesa.

Sempre fui fonte e isso não me pertencia. Agora sou sentença, sou arco, sou a cortina e a minha própria passagem. Eu sou a data da história. Eu estou. Modifico, desencadeio e faço e roubo o desencadear.

Ancoro nos lugares por onde eu possa e queira. Nada me leva, tudo me devolve o sorriso perdido, a beleza reta e santa, toda a garganta. O anuncio do sol, o sol inteiro e único, o sol instantâneo e perpendicular.

Paro e prossigo, eu me desvencilho do que não me absorve. Eu me dou inteira nas mãos que tem a vida, cujo peito transcende o mar.

Eu tenho um nome, um telefone, alguns endereços, um espelho, uma caixa de anéis.

Eu estou em toda e qualquer impossibilidade que me seja vontade. Possibilito o hoje que me possa ocorrer e o sorriso mais perfeito que eu possa segurar. Estou na porta, sempre e diversas vezes e nela a um passo do meu navio. Eu conto muito comigo e eu não temo mais o prosseguir , o ancorar.

Em: 28/09/2010

Tânia Fonini
Enviado por Tânia Fonini em 28/09/2010
Código do texto: T2525409
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