Homem?!... Nada.
Silêncio profundo!...Ambiente tenebroso!
Ar bafiento:odor a círeos objectos,
cheiro a lugubridade, azeite queimado,
vestes clericais, toalhas de altar, paramentos,
santos de madeira carunchosa...mofo!
Cheiro a defunto...isso mesmo. Ei-lo.
Defunto?!...Precisamente esse ser que já foi,
que da vida que possuía lhe resta não-vida.
Foi...no verdadeiro sentido do ser.
É...no verdadeiro sentido do ser.
Será...no verdadeiro sentido do ser.
Existiu...existe...existirá. Como?...
Incógnita inerente ao próprio ente:
«...ontem fui homem...hoje sou defunto...
amanhã serei...enfim, o que for.
Sempre uma luta de iões, átomos,
moléculas - revolução íntima do ser.
Luta?!...Luta de sentimentos, ideais,
palavras, ruídos estranhos -luta interna.
Luta com os outros seres, homens que, omo eu,
foram, são e serão -luta externa.
Tanta rotina...tanta desigualdade.
Mesmos destinos...Lutas eternamente.
Nada somos, senão seres.
Num conjunto, nada e tudo!
Nada, porque da mesquinhez somos fruto.
Tudo, porque, de nós, nada resta senão a nossa
integral totalidade constructiva...
Somos tudo quanto possuímos...
Mesmo assim, que somos?...Nada.