MÃO E FLOR
Há alguém aí?
Alguém escuta-me?
Já amassaste antes uma flor?
Ou algo a que pensa ser flor?
Não tenho pretensão alguma de ser flor.
Mas estive a contemplar uma…
Que na verdade nunca a foi.
E coloquei-me em seu lugar de pseudo-flor…
E quando eu lá estava… a vaguear por entre suas pétalas…
Frescas… soltas… felizes – fazia-se tempo que não se via algo assim…
Com toda a força de se existir flor…
Veio uma enorme mão… sem compaixão…
Sem preceber aquele estado de se existir flor… plena…
E apertou-a… num gesto tão vil… Estúpido!
Estúpidas todas as mãos que não percebem que nasceram para o afago.
Estúpida toda a coisa que apercebe-se flor num dia qualquer – pretensão!
Fez-se silêncio.
Neste instante, então…
Todas as frescas pétalas ficaram encolhidas… mudas.
Na verdade, imagino eu…
Elas jamais poderiam imaginar outra atitude… que não o afago.
Flores nascem para o afago.
Mãos nascem para o afago.
Mas neste instante… não se era flor.
Neste instante… não se era mão…
Nas suas formas de existência mais largas.
E houve choro…
Não um choro molhado… comumente visto nos rostos.
Um choro na alma… na vergonha da tamanha petulância...
De se querer ser flor sem antes nunca ter sido.
Não sei o que sentiu a mão… pobre leviana.
Mas houve uma cínica satisfação na ausência de reação da pseudo-flor.
Pude perceber no silêncio que se fez depois disso.
E não houve mais flor… não se quis mais ser.
E não houve mais mão.
Houve sim… uma simples mão humana.
Karla Mello
Setembro/2010