CARIOCA DA GEMA


Não vou descrever a explosão estonteante de mulher que era a minha carioca da gema, resultante de uma beleza inquestionável, absurdamente bela como um entalhe de uma escultura grega: o Hermes Aquino estava sentado na praia de Ipanema, quando viu a minha encantadora morena, com um corpo escultural, esguia, e um rosto angelical belíssimo, passar ao meu lado e de mãos dadas comigo – ele, o artista, atravessou-se em minha frente e ajoelhado disse-me: dou-te toda a minha fortuna e toda a minha arte pela tua deusa! Que atrevimento eu disse, pois fique com a tua arte e toda a tua fortuna – minha arte e minha fortuna é a minha esposa e vai continuar caminhando do meu lado... Abobado, mal sabia o cantor gaúcho que estava se atravessando no âmago do casal vinte, dotado de dotes artísticos, também... Eu não precisava da arte do Hermes Aquino, pois sou Fernando Pellisoli – ainda que um artista das bases...
O fascínio que a minha carioca da gema exercia nos homens e nas mulheres, desfilando de fio-dental, era como se fosse um majestoso pavão misterioso, angulosamente divino e transcendental... Eu, como era muito provinciano, ficava abestalhado aos confetes e serpentinas que jogavam sobre o dorso da minha carioca da gema mais linda de Copacabana, e deste meu ingente amor... Ladrilhava, com pedrinhas preciosas, as areias férvidas de Copacabana só para o meu amor passar, e não queimar os lindos pezinhos... E a mimosa criatura de contos de fada, além de bela, era uma mulher inteligentíssima e com um estupendo detalhe: ainda que formada em psicologia; falava muito pouco – somente o necessariamente indispensável... E que linda parceira, uma verdadeira leoa quando me defendia dos perigos aventurosos do Rio de Janeiro...
Não esquecerei jamais os seus lindos olhos castanhos escuros, a sua boca pequena, carnuda e sensual, a sua bunda mediana e redonda, as suas coxas roliças e suas pernas bem delineadas, seus seios não muito pequenos e perfeitos, seu nariz de boneca cinematográfica e suas orelhas pequenas e bem desenhadas, seus joelhos pequenos e redondos, suas mãos femininas personalizadas, seus pés pequenos e muito delicados, seus braços como dois cisnes se amando, seus ombros como duas torres erguidas, seu dorso como um soneto de Vinícius de Moraes e sua barriga como um sofá aconchegante, onde sonhava os meus sonhos, e a boceta uma linda concha de ostras...
Uma linda metáfora de uma deusa dos mares de Copacabana, desmistificando a beleza das tulipas, que se encurvavam - reverenciando o bem passarem dos passos cadenciados e mágicos da minha louca carioca da gema, esplendorosamente iluminada e genial... Uma floricultura inteira não enquadrava tanta beleza, nem transpassava, nas passarelas da vida, tanta beleza ornamental – como não amar uma deusa escultural da psicologia: nem Freud poderia explicar tanta beleza em tanto mistério insondável, qualificando as infindáveis paixões pellisolianas... Terá sido um sonho mágico de uma irreal estória fantasística, este meu casamento relâmpago com uma estrela carioca?

FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 16/09/2010
Reeditado em 18/09/2010
Código do texto: T2502255