Entardeço
Entardeço
Meu retrato é como este sol fugitivo e contraditório,
dizendo o “adeus” da partida vespertina,
enquanto mira suas beiradas arrastadas pelo mar imenso,
cujo azul ganha tons alaranjados e acobreados de saudades.
É ouro que amadurece e acalma minha ansiedade
e meu olhar aguçado pelos matizes estroboscópicos diurnos,
limitando minha visão e minha imaginação.
Este entardecer doce e ameno já foi como eu,
o jovem sôfrego caminhando para a frente e para o alto,
no entanto, a maturidade natural verga seus raios suavemente e fá-lo voltar, no auge do seu fulgor,
às raízes celestes criadoras e pausar o momento que clama por inércia.
Paisagem dupla {no céu e no mar} duplica minhas aspirações,
tremulando ao tom do cobre das águas benditas,
vibrando minha alma selvagem, sedenta de natureza virgem.
Brincando de partir, o sol vai ficando,
enroscado às marolas cantoras, cativo de sereias lendárias;
segue ele afogado nas profundezas do meu ser, inebriando meus sentidos...
Se ele se põe ou nasce, fico sonhando a cismar e a amar a Deus, o Papai-criador poderoso, pela dádiva da vida.
Assim é que, ganho o tempo meandrado futucecendo
proximidade e longitude, pois enquanto entardece,
meus olhos esticam braços apalpando calor,
seja na miragem do espelho azul-doiro-marinho,
ou no vulto de brasa riscando os céus.
Chego mesmo a crer que é infinito,
é eterno este entardecer vibrando no mar da vida,
fazendo-me pressentir o entardecer de amanhã,
com novas promessas douradas de calmaria.
Santos-SP-10/09/2006